Destaques

Oposição quer maior participação da União nos recursos do novo Fundeb. Por Cristiane Sampaio

Protesto de professores na comissão da Câmara que avalia o Fundeb; oposição rejeita inclusão de escolas particulares no texto da PEC – Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

Publicado originalmente no site Brasil de Fato

POR CRISTIANE SAMPAIO

Pestes a ser votado em uma comissão especial na Câmara dos Deputados, o relatório da proposta que cria o novo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) tem o apoio da oposição, mas é alvo de ressalvas que devem resultar na apresentação de destaques – sugestões de alteração que são votadas após a apreciação do texto-base, que pode ser colocado em votação nesta quarta-feira (11).

O parecer, produzido pela deputada Dorinha Rezende (DEM-TO), converte o Fundeb em uma política permanente e aumenta a participação financeira da União no fundo de 10% para 15% em 2021. Também promove uma ampliação gradativa desse percentual, que chega a 20% em 2026. O texto da parlamentar é um substitutivo da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 15/2015, de autoria da ex-deputada Raquel Muniz (PSD-MG).

A oposição, no entanto, ainda pretende tentar emplacar um percentual maior, de 40% para a União. Essa proposta constava no relatório inicial da deputada, apresentado em setembro de 2019, mas foi vencida ao longo das negociações porque esbarra na resistência do governo e de parlamentares que votam com a gestão Bolsonaro nas pautas liberais, como as que preveem menor participação do Estado no financiamento das políticas sociais.

Em geral, os principais apoios a essa agenda do presidente vêm de membros do Novo, do PSL, ex-partido do presidente da República, e de uma parte dos deputados do chamado “centrão”, grupo que reúne partidos da direita liberal.

Por falta de uma maioria que concordasse com o percentual de 40%, a relatora e os opositores do governo conseguiram negociar o texto atual, que pode ser remendado por meio de destaques. Segundo o deputado Pedro Uczai (PT-SC), integrante da comissão da PEC, a principal medida que o grupo vai tentar aprovar é a elevação do percentual para 40%.

“Se a gente considerar o Fundeb de hoje, em que a União só complementa com 10%, ampliar pra 20% numa conjuntura de um governo adverso, que, ostensivamente, elege a educação e a universidade publicas como inimigas, é um avanço. Mas um  avanço insuficiente.”

O petista argumenta que os números do país na área pedem um aporte maior da União pelo fato de esta ser a unidade da Federação que mais arrecada impostos. O fundo responde pelo financiamento da educação básica, que vai do infantil ao ensino médio.

“Tem 7 milhões de crianças sem creche hoje, tem 600 mil crianças sem educação pré-escolar, [com idade entre] 4 a 5 anos, e tem 77 milhões de brasileiros que não concluíram a educação básica”, exemplifica Uczai.

Origem dos recursos

Outra crítica dos opositores diz respeito ao trecho do relatório que trata do salário-educação, contribuição social que funciona como fonte adicional de financiamento do ensino fundamental da rede pública. Atualmente, esse instrumento é paralelo ao Fundeb, mas o texto em debate na comissão da PEC o inclui nos recursos do fundo.

A medida é criticada não só por deputados da oposição, mas também por entidades da sociedade civil organizada, como é o caso da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, que defende a manutenção do dispositivo dentro da regra atual.

De acordo com nota técnica publicada pela campanha, se o salário-educação for incluído na verba do fundo, a União não estará investindo 10% a mais nele em 2026, já que dentro do percentual total estaria contabilizada a verba retirada do dispositivo.

“O Fundeb precisa garantir educação pra todos. Isso significa qualificar as matrículas existentes e fazer com que novas pessoas entrem na escola, ou seja, ampliar a oferta. O Fundeb só fará isso se ele tiver realmente recursos novos, o que significa maior complementação da União”, afirma a coordenadora da campanha no Distrito Federal, Catarina de Almeida Santos.

Outro estudo realizado por pesquisadores da campanha explica que, caso os recursos do salário-educação sejam desviados para o novo Fundeb, correm risco iniciativas como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) – 85% financiado pelo dispositivo –, também está em risco a continuidade do Programa Nacional de Apoio ao Transporte Escolar (PNATE), que é totalmente bancado com esses recursos.

“Colocar o salário-educação na complementação da União é deixar de atender os programas que hoje ele atende. Isso impede que as pessoas no Brasil tenham realmente o direito à educação”, acrescenta Santos, que atua como professora do curso de Pedagogia da Universidade de Brasília.

Escolas privadas

Outro ponto de preocupação dos opositores diz respeito a uma proposta para que escolas particulares também sejam contempladas no financiamento do Fundeb. Sugerida por parlamentares do partido Novo, a medida deve resultar em um destaque a ser apresentado na comissão.

O deputado Pedro Uczai antecipa que a oposição irá concentrar as forças na tentativa de derrubar a proposta, caso ela seja oficializada no colegiado após a votação do texto-base.

“Imagine uma escola privada, que distribui lucro e patrimônio, receber dinheiro do Fundeb quando tem milhares de escolas [públicas] que estão em situação precária. Cerca de 40%, 50% delas não têm quadra coberta pra praticar esporte, cultura, lazer, arte e  grande parte não tem biblioteca, bibliotecário nem laboratórios e os prédios, fisicamente, estão, muitas vezes, em condições precárias”, enumera.

O petista sublinha, no entanto, que a medida precisaria contar com forte mobilização contrária, por conta da tendência liberal da maioria dos parlamentares do colegiado.

“É um crime de lesa-pátria. Professores e estudantes do Brasil inteiro precisam reagir, pressionar os deputados federais dos estados pra não fazerem essa barbaridade.”

Diario do Centro do Mundo

Disqus Comments Loading...
Share
Published by
Diario do Centro do Mundo

Recent Posts

Porto Alegre (RS) não investiu um centavo contra enchentes em 2023

A Prefeitura de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, não investiu um centavo de…

3 horas ago

Águas contaminadas podem causar surto de dengue e doenças com risco de morte no RS

O surto de chuvas no Rio Grande do Sul está causando preocupações significativas em relação…

3 horas ago

Nível dos rios no RS só vai normalizar no final de maio; entenda

A previsão para os próximos dias no Rio Grande do Sul (RS) mostra que a…

3 horas ago

Filha de Michelle Bolsonaro divulga conta pessoal ao pedir Pix para o RS

Letícia Firmo, filha mais velha da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL), está incentivando internautas no Instagram…

10 horas ago

A extrema direita viciada em PIX age até em catástrofes. Por Moisés Mendes

Admito que demorei a acreditar que o coronel Zucco, deputado federal gaúcho que presidiu a…

11 horas ago

Lula assina decreto para acelerar reconstrução do Rio Grande do Sul

Publicado originalmente por Brasil de Fato O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou e…

11 horas ago