A série que fez uma cadeia americana mudar a cor do uniforme das presidiárias

Atualizado em 28 de julho de 2014 às 19:09

 

Nos Estados Unidos, um delegado de Michigan mandou trocar as cores dos uniformes das detentas para o clássico preto e branco. O antigo laranja se tornou “cool”. Tudo por culpa da série “Orange is the New Black”, produção do Netflix.

OITNB pegou, e foi merecido. Concorre a doze prêmios Emmy, entre eles melhor seriado de comédia.

Uma típica loira wasp nova-iorquina, bissexual, vai parar num presídio com mulheres feias, sujas e malvadas, lidando com as expectativas do noivo, ou ex-noivo, um bom rapaz judeu aspirante a escritor, ligeiramente picareta.

Inteligente, original, com drama e humor nas doses corretas, excelentes atuações e erotismo moderado, pero cumplidor, está na segunda temporada. A terceira já foi encomendada.

A criadora é Jenji Kohan, conhecida por “Weeds”, sobre a dona de casa de subúrbio que, viúva e falida aos quarenta e poucos, passa a comercializar maconha para sustentar a família.

Jenji se baseou no livro de memórias de Piper Kerman (o sobrenome virou Chapman na adaptação). Piper tinha uma vida relativamente em conformidade com o que seus pais esperavam até conhecer Alex, mais elegante, mais bem sucedida, sofisticada, lésbica e traficante de drogas. Ela vira amante e “mula” de Alex.

A polícia descobre o esquema e Piper vai em cana. Nós acompanhamos Piper na prisão, onde encontra um mundo novo em que negras, latinas, branquelas, orientais, religiosas e rappers vivem em grupos que se toleram, na melhor das hipóteses, e se matam, na pior. Consegue ser aceita por todas. Por causa disso, o diretor da penitenciária a usa como espiã, até perceber que ela o engana para obter vantagens.

Sim, é um retrato do sistema prisional americano, mas passa longe do enfadonho ou do denuncismo. Pelo contrário, OITNB tem um olhar bem humorado e terno sobre moças desencaminhadas.

O desfile de personagens, cujas trajetórias se revelam em flashbacks, é incrível. Há a chef de cozinha durona, uma imigrante russa com um passado malcheiroso como arenque; um transexual que se separou da esposa e tem um relacionamento complicado com o filho; uma junkie sedutora; uma freira ativista; uma fanática religiosa redneck de dentes podres. Etc.

Piper vive em conflito com sua sexualidade. Ela se divide entre Larry Bloom (Jason Biggs, de “American Pie”) e Alex (Laura Prepon, de “That ’70s Show”). Quando as coisas parecem pender para Larry, é arrastada pelo desejo por Alex. Manipula e é manipulada por ambos.

OITNB é um triunfo para a Netflix, que apostou num tema ousado, controvertido e quase uma receita para o fracasso. Nenhuma das atrizes corresponde ao ideal de beleza de uma novela da Globo.

“Piper foi meu cavalo de Troia”, diz Jenji Kohan. “Você não chega numa rede de TV e vende um programa fascinante sobre negras, velhas e criminosas. Mas se tiver uma garota branca, um peixe fora d’água, e a colocar nesse aquário, você pode expandir seu universo e contar todas as outras histórias”.

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