Orbán, o Bolsonaro da Hungria, tem o modelo de destruição da Educação que o Brasil segue. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 14 de maio de 2019 às 18:48
Bolsonaro e Michelle com Viktor Orbán, premiê da Hungria, na posse

O plano de destruição da Educação pelo governo Bolsonaro obedece a um modus operandi da extrema direita mundial.

O template é a Hungria.

Além de Marcelo Rebelo de Sousa, presidente de Portugal, o único chefe de estado da União Europeia a comparecer à posse de Jair Bolsonaro foi primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán.

Orbán se considera o precursor do nacional-populismo e é como tal reconhecido por seus discípulos.

Sua trajetória desde que chegou ao poder em 2010 é didática para o bolsonarismo.

“Bolsonaro, Salvini [vice premiê da Itália] e Orbán são os melhores representantes do movimento”, celebrou Steve Bannon, ex-conselheiro de Trump que virou o mefisto da turma.

Eduardo Bolsonaro esteve em Budapeste em abril.

Fazendo o convidado burro que faz qualquer coisa para agradar, comparou a Venezuela aos países do leste europeu no pós-guerra sob o domínio da União Soviética.

Contou que quer aprender com o governo nacionalista de Viktor Orbán, citando o bicho papão da galera, o bilionário George Soros.

“Também não gosto de George Soros. Não gosto do politicamente correto e quero aprender sobre isso aqui’, falou.

Acusou Soros de financiar grupos radicais violentos, mas não deu um mísero nome.

Uma matéria da Atlantic mostra a devastação da academia por Orbán.

O autor, Franklin Foer, relata a “guerra ao intelecto” promovida pela Hungria — contra, no final das contas, si mesma, e a serviço de um projeto fascista.

Um trecho:

A Hungria já teve algumas das melhores universidades da Europa pós-comunista. Mas o governo de Orbán sistematicamente as esmagou.

Seus funcionários penetraram nas universidades públicas, controlando-as com firmeza.

Financiamentos de pesquisa, algo que era determinado por um corpo independente de acadêmicos, são agora submetidos a aliados de Orbán.

Quando cheguei a Budapeste, um site governista havia acabado de pedir aos estudantes que enviassem os nomes de professores que defendiam “opiniões políticas de esquerda não requisitadas”. [Qualquer semelhança com o Escola Sem Partido não é coincidência].

Um semanário amigo do regime publicou uma “lista de inimigos” que incluía os nomes de dezenas de acadêmicos, “mercenários” supostamente trabalhando em nome de uma cabala estrangeira.

Como Pol Pot ou Josef Stalin, Orbán sonha em liquidar a intelligentsia, drenando o público da educação e moldando uma nação mais flexível.

Mas ele é um autocrata de última geração; entende que não precisa recorrer ao cassetete ou a bater à meia-noite na porta das pessoas.

Seu ataque à sociedade civil é feito sob o disfarce de legalismos, subvertendo as instituições que podem desafiar sua autoridade.

A CEU (Central European University) é uma universidade privada, credenciada tanto nos Estados Unidos quanto na Hungria e, por essa razão, representa um desafio particular ao regime.

A escola foi fundada pelo financista George Soros, nascido em Budapeste, a quem Orbán xingou de intruso nefasto nos assuntos da Hungria.

Soros concebeu a escola durante os últimos dias do comunismo para formar uma geração de tecnocratas que escreveriam novas constituições, privatizariam empresas estatais e levariam o mundo pós-soviético a um futuro cosmopolita.

A universidade, declarou ele, “se tornaria um protótipo de uma sociedade aberta”.

Mas a sociedade aberta é exatamente o que Orbán espera reverter; democracia liberal é o eufemismo que ele usa para descrever o estado que está construindo.

O primeiro-ministro e seus aliados fizeram o possível para tornar a vida desagradável para o CEU. Então, em abril de 2017, o Parlamento aprovou uma lei estabelecendo condições que ameaçavam tornar a presença da CEU no país ilegal. (…)

Oitenta mil manifestantes encheram as ruas. O esforço para despejar a CEU sacudiu os liberais em todo o mundo.

A liberdade acadêmica – conceito no centro de tudo que o Ocidente professa valorizar – parecia estar se esvaindo em um país onde ela parecia firmemente estabelecida.

Universidades correram para declarar sua solidariedade; 17 ganhadores do Prêmio Nobel assinaram uma carta de apoio. Mesmo os Estados Unidos, dirigidos por um presidente que não é fã de George Soros, se ofereceram para ajudar a universidade.

E assim, durante a maior parte dos últimos dois anos, a CEU tem sido a barricada de uma luta civilizacional, em que o liberalismo montaria uma defesa contra o populismo de direita.

O destino da universidade era um teste para saber se o liberalismo tinha a capacidade tática e a coragem emocional para derrotar seu novo inimigo ideológico.

Em dezembro, a CEU anunciou que estava se mudando para Viena.

Não se sabe se resistirá ao novo governo de extrema-direita da Áustria.

Eduardo Bolsonaro e Viktor Orbán na Hungria