
Neste domingo (29), o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, afirmou que os ataques dos Estados Unidos ao Irã não destruíram completamente o programa nuclear iraniano. Segundo ele, Teerã pode reiniciar o enriquecimento de urânio em poucos meses, contrariando declarações do presidente Donald Trump, que disse ter “obliterado completa e totalmente” o programa.
Grossi deu a declaração ao programa Face the Nation, da emissora norte-americana CBS. O chefe da AIEA afirmou que os danos causados às instalações iranianas foram severos, mas não totais, e que o país possui capacidade industrial e tecnológica para retomar suas atividades nucleares se decidir fazê-lo.
As observações do diretor da AIEA estão alinhadas com uma avaliação preliminar da Agência de Inteligência de Defesa dos EUA, divulgada pela CNN, que indica que os ataques norte-americanos apenas atrasaram o programa nuclear iraniano por alguns meses. A avaliação completa ainda não foi concluída.
O ataque ocorreu após 12 dias de escalada entre Israel e Irã, iniciada com uma ofensiva israelense contra alvos estratégicos em território iraniano. Os Estados Unidos intervieram com bombardeios a três instalações nucleares antes de um cessar-fogo ser acordado. Desde então, especialistas e parlamentares debatem os efeitos práticos da operação.
Apesar da retórica adotada por Trump, alguns parlamentares republicanos admitiram que a missão não pretendia eliminar por completo o material nuclear iraniano, em reuniões fechadas. Segundo eles, o objetivo era apenas reduzir temporariamente a capacidade operacional de Teerã.

Grossi destacou que a AIEA precisa de acesso aos locais nucleares iranianos para confirmar o real estado das atividades. Ele afirmou que o Irã vinha colaborando antes dos ataques, mas havia pendências importantes, como vestígios de urânio em locais não declarados oficialmente.
A agência também suspeita que parte do material enriquecido pode ter sido removido antes dos bombardeios, o que contraria declarações de Trump. Grossi afirmou que, embora não se saiba exatamente onde esse material esteja, é plausível que tenha sido protegido durante os dias de conflito.
Após os ataques, o parlamento iraniano aprovou uma medida que suspende a cooperação com a AIEA. O chanceler Abbas Araghchi também indicou que Teerã pode reavaliar sua permanência no Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), o que pode abrir caminho para o desenvolvimento de armamento atômico.