Eles querem sangue e guerra: os 10 anos da farsa de Obama contra Lula e o Irã. Por Moisés Mendes

Atualizado em 9 de janeiro de 2020 às 8:30
Barack Obama (MANDEL NGAN/AFP/Getty Images)

POR MOISÉS MENDES

Barack Obama não faria o que Trump fez em relação ao Irã porque são totalmente diferentes? Mais ou menos.

Vamos relembrar aqui o fracasso das negociações do Brasil com os iranianos para que chegassem a um acordo com os Estados Unidos sobre armas nucleares.

Foi um fiasco para o Brasil. O acordo fará 10 anos em 17 de maio de 2020. O presidente era Obama, a secretária de Estado, Hillary Clinton. O presidente iraniano era Mahmoud Ahmadinejad. Lula presidia o Brasil, e o chanceler brasileiro era Celso Amorim.

Vários países envolveram-se no esforço de diplomacia pela paz mundial. O Brasil liderava a intermediação do acordo que previa o uso de energia nuclear para fins pacíficos.

Lula e Amorim foram alçados à condição de grandes líderes pacifistas, com reconhecimento da imprensa internacional. Mas logo se saberia que os EUA haviam empurrado os dois para uma fraude.

Amorim contou o que aconteceu ao fazer uma palestra em junho de 2018 em Porto Alegre, no Teatro Dante Barone. Ele e Lula foram a Teerã com a minuta do que seria a proposta americana de controle de armas nucleares.

Depois de 20 horas de reuniões, deu tudo certo, com ajustes em detalhes. Lula, Amorim, o presidente Ahmadinejad e o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, chegaram a um entendimento que poucos imaginavam.

O mundo noticiou o acordo em que o Irã se submetia a novas regras. O Brasil era protagonista do esforço para afastar os iranianos da tentação nuclear.

Amorim e Lula retornaram ao Brasil por Paris, de onde o chanceler telefonou para a secretária de Estado Hillary Clinton para contar detalhes.

O entusiasmo do brasileiro foi jogado no ralo logo depois da primeira frase. Hillary disse que não era nada daquilo. Que ele e Lula haviam entendido tudo errado. Que o acordo não existia.

Amorim insistiu que o acordo tinha tudo o que os americanos queriam. Hillary devolveu que não era bem assim. E a conversa foi encerrada.

Os EUA haviam sido surpreendidos pelo êxito da reunião. Eles não queriam e não acreditavam no acordo. Era para ter dado tudo errado. Lula, Amorim, os iranianos e os turcos haviam acreditado que Obama falava sério.

Amorim contou a história na palestra em Porto Alegre com bom humor. Ele Lula haviam sido enrolados pelo poder dos senhores da guerra.

Em 2010, por esse gesto em Teerã, que teve reconhecimento mundial (apesar da farsa do governo Obama), e de outras ações ousadas na diplomacia, Amorim foi escolhido pela importante revista americana Foreign Policy, especializada em relações internacionais, como sexto Pensador Global mais importante do mundo. Estava no topo de uma lista de cem personalidades.

Mas isso aconteceu nove anos e meio atrás. Irã e Estados Unidos voltaram a fingir acordos e a brigar, e o Itamaraty foi entregue por Bolsonaro a um sujeito que acredita em Olavo de Carvalho e na Terra plana.

Em 2015, os EUA chegaram a firmar outro acordo com o Irã, sem a participação do Brasil, é claro, mas o acerto foi abandonado por decisão de Trump três anos depois, quando os americanos voltaram a impor sanções econômica a Teerã.

O ataque de Trump que matou o principal general iraniano é mais do mesmo, apenas com maior radicalidade e crueldade e com toques de terrorismo.

Nem Obama queria e nem Trump quer acordo algum. Eles querem guerra, o primeiro um pouco menos, o outro sempre um tanto mais.

Mas todos querem sangue e guerra.