Os 25 anos do programa do Jô Soares e o fantasma de Johnny Carson

Atualizado em 17 de outubro de 2014 às 17:45

 

Jô Soares está comemorando 25 anos de seu programa de entrevistas. Começou no STB com o “Onze e Meia”, em 1988, depois de sair brigado da Globo, onde fazia o “Viva o Gordo”. Seus primeiros entrevistados foram o ex-governador de Santa Catarina Esperidião Amin, o navegador maluco Amir Klink e uma candidata a vereadora de nome Makerley Reis, famosa por ter exibido os seios numa palestra de Brizola.

Em 2000, voltou à Globo. Acumula 14 mil entrevistas. Já falou com Sarney, Collor, Fernando Henrique, Lula, Dilma. Mais recentemente, esteve com Marina Silva e Eduardo Campos. Todos os artistas brasileiros sentaram em seu sofá, além de algumas personalidades internacionais nível B que passavam pelo Brasil para divulgar filmes ou shows.

Jô gosta de dizer que já fazia entrevistas em 1963 como integrante do programa Silveira Sampaio, na TV Rio. No início, no SBT, fez sucesso. Importou o formato do talk show americano, algo que não havia aqui. As pessoas ficavam acordadas para assisti-lo naquela era pré-TV a cabo e sem Internet. Até aparecerem os problemas de seu estilo: falava mais que o entrevistado; era grosso com gente humilde; era puxa-saco dos poderosos.

Sua última inovação foi um quadro com quatro jornalistas que sentam numa bancada ao seu lado para comentar determinado assunto. O que poderia, eventualmente, ser interessante, morre pela inanição do debate. Todas elas concordam sobre tudo.

Mas o talk show Jô foi o único a vingar no Brasil. Acabou sendo copiado. Marília Gabriela teve o dela. Nunca saiu do traço. Danilo Gentili criou o dele na Bandeirantes, com os resultados conhecidos.

A atração de Jô chegou aos 25 anos sem um décimo da audiência, da reputação e do prestígio do programa que lhe serviu de modelo, cuja estrela era Johnny Carson. Chamado de “Rei do Fim de Noite”, Carson era o homem com quem os americanos iam para a cama. Na TV por mais de 30 anos, foi uma influência decisiva para gente como Oprah Winfrey, Jerry Seinfeld, David Letterman e uma longa lista.

Era um humorista e nunca quis ser nada além disso. Incorporava seis personagens, um deles um vidente de turbante. Não tinha veleidades intelectuais. Era terrivelmente tímido longe das câmeras. Kenneth Tynan, da revista New Yorker, lhe perguntou um dia: “Quando você está em casa, quem você entretém?” Sua resposta: “Meu advogado, que é provavelmente meu melhor amigo”.

O advogado foi, na verdade, seu único amigo, até os dois brigarem. Seus três divórcios também foram traumáticos. Nunca escreveu um livro ou posou de intelectual. Pegava no pé de Frank Sinatra por causa de suas conexões com a máfia. Sinatra foi ao show, numa espécie de acordo de paz. A certa altura, um comediante entrou no palco e provocou o cantor pedindo notícias de amigos mafiosos. Chegou quase às vias de fato com o cantor Wayne Newton, que insinuava ser gay.

Jô se considera mais do que um humorista. “Acho que a posição correta para o artista é o de anarquista, no sentido de não se engajar politicamente por esse ou outro candidato. Para estar sempre pronto para a crítica”, declarou à Folha. Balela. Nos últimos meses, engrossou o coro pró-JB com suas “meninas”. Pedia “urgência” ao ministro Joaquim Barbosa. “O Brasil tem pressa”, dizia ele, o olhar súplice.

Carson parou aos 66 e morreu 13 anos depois. Jô Soares, aos 75, avisou que não tem planos de se aposentar. “Se a vida fosse justa, Elvis estaria vivo e todos os seus imitadores estariam mortos”, dizia Johnny Carson.

 

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