Os adeptos brasileiros da intervenção militar estão convidados a passar férias na Turquia. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 16 de julho de 2016 às 11:49
"Intervenção militar" à moda turca
“Intervenção militar” à moda turca

 

Um balanço do golpe fracassado na Turquia, até agora, segundo números mais ou menos oficiais: 265 mortos; 1500 feridos; 2800 militares presos.

Esses dados deveriam ser esfregados com mamona na cara e nas partes pudendas dos indigentes mentais que, no Brasil, saíram às ruas pedindo intervenção militar, desfilando com torturadores como um tal Carlinhos Metralha, acreditando num conto de fadas degenerado de uma salvação da pátria.

Ao grito de “Vai pra Cuba” soma-se agora o “Vai pra Turquia”, uma Disneylândia para quem tem fetiche por homens fardados e democracias instáveis.

Segundo o jornalista inglês Robert Fisk, um dos maiores especialistas em Oriente Médio do mundo, esse golpe falhou, mas a história mostra que não vai demorar muito até que outro seja bem sucedido.

É um erro grave, diz ele, supor que o exército turco permanecerá fiel ao sultão Erdogan. “A instabilidade é agora tão contagiosa quanto a corrupção na região, especialmente entre os seus potentados e ditadores, uma classe de autocratas da qual Erdogan tem sido membro desde que mudou a Constituição para seu próprio benefício e reiniciou o conflito com os curdos”.

As potências vitoriosas na Primeira Guerra Mundial destruíram o Império Otomano e as ruínas divididas em pedaços pelos aliados foram entregues a reis brutais, coronéis depravados e ditadores. “Erdogan e o grosso do exército que decidiu mantê-lo no poder – por enquanto – se encaixam nesta mesma matriz de estados quebrados”, escreve Fisk.

As duas mil e tantas prisões de militares representam apenas alguns dos milhares de homens que acreditam que o sultão de Istambul está destruindo a nação.

O que aconteceu na Turquia é uma série muito mais dramática de eventos do que pode parecer de início. “Desde a fronteira da União Europeia, através da Turquia e da Síria e do Iraque e de grande parte da península egípcia do Sinai e da Líbia e da Tunísia, existe agora um rastro de anarquia e de estados falidos”, afirma Fisk.

“O desmembramento do Império Otomano continua até hoje. É neste quadro histórico sombrio que o golpe-que-não-houve em Ancara deve ser encarado. Fiquemos de prontidão para o próximo em alguns meses ou anos.”

 

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