Os colunistas da Globo vendem ilusão: dizem que da bananeira sairão jacas. Por Fernando Brito

Atualizado em 1 de janeiro de 2019 às 8:45

PUBLICADO ORIGINALMENTE NO TIJOLAÇO

Ao garoto que, no final dos anos 60, procurava entender como as pessoas agem, minha velha avó ensinava, nas palavras simples de gente que aprendera muito com a vida: “meu filho, não espere que um bananeira lhe dê jacas. você vai falar, falar, falar e ela só dará bananas”.

Os colunistas de O Globo – e donos da sabedoria da classe média, a partir do púlpito da Globonews – se dedicam hoje a falar das jacas que virão da bananeira que vai governar o país.

Na manchete, o jornal dos Marinho diz que “Bolsonaro vai pregar união e austeridade em discurso”. Isso depois de disparos de twitter clamando contra o “marxismo nas escolas” e de um discurso, segundo o jornal, redigido com a ajuda dos filhos, pitbulls notórios da radicalização.

Merval, o bedel da pátria, diz com gravidade afetada que “cabe a ele, Jair Bolsonaro, desanuviar o ambiente político e encaminhar o país para novos rumos, como a vontade majoritária do eleitorado quis.  Mas procurando conciliar as partes”.

Bolsonaro, conciliador? “Jacas, jacas”, pede-se à bananeira…

Míriam Leitão, mais desencantada e menos esperançosa coloca a pedra chave no tabuleiro: “o dilema é: como subir impostos [retirando exonerações fiscais], quando se deveria reduzi-los, e como reduzi-los se o rombo é enorme?”.

E sugere que o novo presidente pare com seus rompantes [ jacas, jacas…] e  lhe propõe as condições para que a mídia pinte de verde as bananas: “Se o governo continuar alimentando a fantasia de que está lutando contra os grandes jornais e as maiores emissoras de televisão vai desperdiçar tempo, munição e recursos.”

Passa ao largo da compreensão destes gajos que o governo que se instala hoje não tem outro projeto senão o enunciado pelo seu vice-presidente, o General Hamilton Mourão: o desmanche do Estado brasileiro e a abertura do país a uma predação ainda mais selvagem do Brasil.

Bananas não têm sementes e, nas que comumente encontradas, são inférteis: bananeiras apenas rebrotam à medida em que murcham depois de lançarem seus cachos.

E junto a elas, ensina o saber da roça, cuidado com as cobras.