Os desafios do segundo turno. Por Miguel do Rosário

Atualizado em 3 de outubro de 2022 às 12:01
Ex-presidente Lula (PT) e apoiadores
Foto: Reprodução

Por Miguel do Rosário

As urnas falaram. Um total de 123,67 milhões de brasileiros fizeram longas filas no último domingo e depositaram suas emoções nas urnas eletrônicas.

Nossas análises agora não precisam se basear em pesquisas eleitorais com 2, 3, 6 ou 12 mil entrevistas, telefônicas ou pessoais.

Agora temos em mãos dados mais concretos, que nos permitem entender melhor o que passa pela cabeça dos brasileiros.

A propósito, não alimentem teorias contra pesquisas. Elas apresentaram o retrato do eleitorado às vésperas da eleição. No dia do voto, dois fatores quebraram as expectativas: a abstenção, que se manteve alta, em 21% do eleitorado, apesar da impressão visual que as filas geraram; e o voto útil, que fez Bolsonaro raspar o tacho do antipetismo da terceira via, praticamente zerando os votos de candidatos como Felipe D`Ávila, Soraya e outros, e mordendo uns percentuais de Simone Tebet e Ciro Gomes.

Agora vamos à luta com uma noção muito mais precisa do tamanho dos exércitos de cada um. Lula recebeu 57,25 milhões de votos, ou 48,43% dos votos válidos totais.

Bolsonaro, por sua vez, teve 51,07 milhões de votos, ou 43,20% dos votos totais.

Vamos ao segundo turno com 6,18 milhões de votos a mais.

Para se ter uma ideia da magnitude desse número, lembre que Bolsonaro recebeu ontem, em Minas Gerais, 5,2 milhões de votos.

Ou seja, mesmo que Bolsonaro multiplicasse todos os seus votos em Minas, segundo maior colégio eleitoral do país, ainda assim ficaria atrás de Lula no primeiro turno.

Nesta eleição, a abstenção foi de 20,9% do eleitorado, ou 32 milhões de eleitores, um pouco maior que a registrada em 2018.

Alguns dizem que Bolsonaro poderia buscar os votos que lhe faltam entre os que não votaram. Sim, claro que ele tentará fazer isso. Mas Lula também o fará, e acredito que Lula tem algumas vantagens. Vamos à ela.

A abstenção no segundo turno costuma ser muito parecida com aquela verificada no primeiro. Em geral, até cresce um pouco. Em 2018, a abstenção no primeiro turno foi de 19,2%, e cresceu para 21,3% no segundo turno.

Nada indica que este ano será diferente. Sobretudo, nada indica que a maioria daqueles que não votaram, migrarão para Bolsonaro no segundo turno.

Ao contrário, é mais provável que a maioria dos que não votaram sejam, em sua maioria, pessoas de baixa renda, com mais tendência pró-Lula do que Bolsonaro.

Isso significa que a eleição já está decidida? Que Lula irá vencer fatalmente. Claro que não. O processo democrático é um regime de competição, de natureza darwinista. Aquele que se comunicar melhor, que errar menos, que reunir maior número de aliados, tem bem mais chances de sobreviver do que o seu adversário.

É preciso reiterar, porém, que, nesta segunda etapa da guerra, as informações de que dispomos são de muito melhor qualidade, do que na primeira parte. Antes, tínhamos pesquisas eleitorais, sempre vulneráveis, vagas, expostas a interpretações subjetivas dos analistas. Agora não. Agora a gente um dado concreto: 156,4 milhões de eleitores deram sua opinião. Sim, mesmo aqueles que não foram votar também deram, de alguma maneira, a sua opinião: não votaram no presidente, nem na oposição.

E o que os dados nos mostram?

Ao longo das próximas semanas, iremos destrinchá-los com minúcia. As próprias pesquisas ganham qualidade, porque agora temos uma referência mais sólida para examiná-las. A votação de primeiro turno reduz sensivelmente o nevoeiro no qual navegávamos, inclusive na interpretação das pesquisas.

Entretanto, uma conclusão podemos adiantar. Até porque ela é baseada abertamente na vontade e na fé, essa força que nunca podemos excluir de uma análise. Uma análise que não leva em conta a vontade, a fé, a esperança, é tão equivocada como aquela que se embriaga demais nesses sentimentos.

A conclusão é que venceremos. Lula vencerá o segundo turno, no dia 30 de outubro de 2022.

Por quantos milhões de votos, e quais serão as estratégias, ainda restam dúvidas, e é isso que a gente irá conversar e combinar ao longo dos próximos dias.

Serão 28 dias de luta, ansiedade, desespero, alegrias, esperanças e, por fim, redenção.

Mas, ao final, venceremos!Texto publicado originalmente em O Cafezinho

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