Os desafios que o PT terá de vencer para voltar a governar o Brasil. Por Emir Sader

Atualizado em 13 de julho de 2020 às 20:09
Dilma Rousseff e Fernando Haddad, do PT, também participam da cerimônia de entrega da honraria ao ex-presidente Lula. – Pedro Stropasolas/Reprodução/Brasil de Fato

O PT, ao aparecer para a maioria da população como a alternativa, que melhorou as condições de vida dela e promoveu uma imagem positiva do Brasil para os brasileiros e para o mundo, assumiu grandes responsabilidades. Ele é o único partido que pôde fazer isso e que permanece, pelo menos para uma parte da população, como a esperança de resgate das condições de vida do povo.

Os quatro mandatos presidenciais do PT representaram o melhor momento da historia brasileira para as condições de vida do povo, para a democracia e para o prestigio internacional do Brasil. Desde a reeleição da Dilma, o país foi jogado em um redemoinho, despencando de todos os pontos de vista, para a situação catastrófica atual.

O PT perdeu a iniciativa, não apenas deixou de ser governo, como foi acusado de corrupção, foi vítima de operações midiáticas e de internet que levaram à sua derrota eleitoral em 2018. O partido ficou em uma situação de desconcerto, entre a confiança de que voltaria a governar o Brasil e o sentimento de derrota, que o PT não vivia mais desde o governo de FHC.

Desconcerto, pessimismo, impotência, desmoralização – passaram a ser componentes da vida do partido e de toda a esquerda, enquanto a extrema direita se apropriava do Estado e passava a impor suas poíiticas e suas agendas. As contradições que passaram a ocupar o centro da vida política passaram a ser aquelas dentro da própria direita ou entre a direita e a extrema direita.

O PT vive seu momento mais difícil desde sua primeira vitória eleitoral, em 2002. Perde iniciativa, aderiu ao “Fora Bolsonaro”, sem consciência de que os graves problemas do país – econômicos, sociais, políticos, de saúde pública – não podem ser resolvidos com o governo atual. Se dá conta que a iniciativa está nas mãos da direita e da extrema direita, da mídia. O que fazer agora? Como se comportar até 2022, se é que só lá será possível mudar o governo?

O primeiro grande desafio para o PT é voltar a ter uma política de massas. Em primeiro lugar, definir as orientações dessa política, como transformar a luta contra a pandemia, pelo emprego, pela sobrevivência das pessoas, pelos direitos democráticos, em políticas de massa. Para, em seguida, definir os meios para colocar em prática essa política, como combinar as distintas formas de trabalho de massas. Certamente requer trabalho de recrutamento, especialmente de mulheres, jovens e negros, que fazem parte no partido e na esquerda. Fazer um trabalho intenso de formação política, particularmente desses novos setores.

Definir os setores fundamentais nos quais concentrar o trabalho de massas – dos tradicionais, sindicais e dos movimentos sociais, chegando aos novos trabalhadores, como os que trabalham nas diferentes formas de uberização, particularmente os entregadores por aplicativos -, bem como as formas de chegar até eles. Usar os meios virtuais, mas encontrar as formas de trabalho de massas direto.

O PT precisa recuperar suas bases de apoio de massas dos que se distanciaram do partido ou aos quais o partido deixou de chegar. O trabalho de massas, junto ao de formação politica, devem ser as prioridades do PT.

O partido também precisa se renovar, diminuir o tamanho das suas estruturas internas, torná-las mais ágeis, promover novas gerações de militantes. Precisa, também, promover grandes debates internos sobre o futuro do Brasil e as perspectivas do PT.

Fazem parte do debate as propostas de solução das crises, especialmente a crise política, a econômica e a social. Um debate sobre as perspectivas do capitalismo internacional, da América Latina e do Brasil na terceira década do século XXI.

O PT foi o partido que conseguiu que a esquerda se tornasse a força hegemônica no país, através dos melhores governos que o país já teve. Tem responsabilidades de compreender as condições e os mecanismos pelos quais isso foi possível. Analisar como mudaram as condições e de que forma a esquerda pode voltar a ser hegemônica no país e assim conseguir resolver nossas crises, pela resgate da democracia, do crescimento econômico, das políticas sociais, da convivência pacífica no Brasil e da sua imagem diante do mundo e dos próprios brasileiros.

Assim o PT estará respondendo positivamente aos desafios do país e diante dos quais o partido tem que redefinir sua natureza e suas relações com o povo brasileiro.