
Pedófilos e abusadores vêm utilizando códigos aparentemente inofensivos em redes sociais para se comunicar de forma disfarçada. Entre os artifícios estão emojis e siglas que passam despercebidos por pais e responsáveis, mas que funcionam como linguagem secreta em comentários de fotos e vídeos de crianças e adolescentes.
O tema ganhou grande repercussão após o influenciador Felipe Bressanin Pereira, conhecido como Felca, publicar um vídeo de denúncia. Em pouco mais de uma semana, o material ultrapassou 45 milhões de visualizações e expôs centenas de perfis suspeitos que utilizavam esse tipo de comunicação.
A Childhood Brasil, organização voltada à proteção da infância, explica que símbolos cotidianos recebem significados distorcidos por pedófilos. O emoji do milho 🌽, por exemplo, é associado à palavra inglesa “corn”, cuja sonoridade remete a “porn” (pornografia). Já o emoji de macarrão 🍜, chamado “noodles”, é usado em referência à expressão “nudes”. Outro exemplo é o símbolo da bola de futebol americano 🏈. Associado a um jogador de futebol americano que abusou do irmão e depois ele morreu. Toda vez que ele faz aniversário, os pedófilos comemoram e utilizam muito esse símbolo.
Outro caso é o emoji do pirulito 🍭, que também passou a ser relacionado à pedofilia. A associação surgiu a partir do livro “Lolita”, de Vladimir Nabokov, em que o protagonista se torna obcecado, sequestra e abusa de uma menina de 12 anos. A ligação entre o emoji e a obra está no termo em inglês “lollypop”, que se aproxima foneticamente da palavra “Lolita” e passou a ser usado em círculos criminosos como referência velada à exploração infantil. Além disso, o emoji de ciclone 🌀 também passou a ser associado diretamente à prática de abuso sexual infantil em redes sociais, incluindo o Instagram.

Para a diretora da Childhood Brasil, Laís Peretto, é essencial que pais e responsáveis compreendam os riscos do ambiente digital. “A gente tem que ter em mente que a internet é uma praça pública. A gente não sai pela rua distribuindo fotos das nossas crianças. Muito cuidado. Perfil fechado. E muitas conversas com as crianças e adolescentes para que eles também saibam a que tipo de risco estão expostos”, afirmou.
Diante dessa realidade, algumas famílias recorrem a aplicativos de controle parental para monitorar o acesso dos filhos. “É a única forma que a gente consegue controlar. Eu não consigo cortar, mas a gente está sempre atento”, disse Jéssica, mãe de um menino de 10 anos.
A Polícia Civil de São Paulo confirma que a exposição em redes sociais amplia a ação de criminosos. No caso mais recente, um homem de 26 anos foi preso por administrar oito perfis falsos, fingindo ser agenciador de influenciadores. Em troca de seguidores, exigia fotos e vídeos de teor sexual. Cinco meninas, entre 10 e 17 anos, foram identificadas como vítimas.
A delegada Luciana Peixoto, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), reforça que até mesmo emojis comuns, como a carinha “babando” 🤤 ou a “com olhos de coração” 😍, aparecem em conversas entre abusadores e vítimas. “Isso já é crime previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente e tem que ser noticiado para a polícia”, destacou.
Denúncias de exploração infantil e pedofilia online podem ser encaminhadas ao Disque 100, canal oficial de atendimento do governo federal.