Os estudantes que ocuparam as escolas devolvem a esperança de uma SP melhor. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 18 de novembro de 2015 às 16:48
Eles construirão uma cidade mais humana
Eles construirão uma cidade mais humana

Foram os melhores dos tempos, e foram os piores dos tempos.

Assim começa, numa tradução bem livre, um clássico de Dickens. Ele mostrava como uma mesma época pode ser vista de diferentes maneiras.

A grande frase dickensiana cabe perfeitamente para a São Paulo deste 2015 que vai terminando.

Foram os piores dos tempos, por um certo ângulo. A cidade pareceu dominada pelo que há de mais reacionário em todas as esferas.

Alguns símbolos disso: os panelaços, as manifestações em que desvairados pediam coisas como intervenção militar, as agressões a petistas em bares e restaurantes.

A São Paulo popular, obreira, corintiana, a terra da mortadela, pareceu desaparecer.

Mas eis que também os melhores dos tempos se manifestam enfim em São Paulo neste 2015.

São os estudantes que vão ocupando escolas e reagindo à política antieducação de Alckmin.

Eles devolvem a esperança numa cidade humana, popular, solidária.

Como eles escaparam da torrente conservadora que se irradiou entre os paulistanos?

Uma hipótese é que, por serem jovens, não estão expostos ao noticiário brutalmente manipulador da mídia.

A Veja, para eles, simplesmente não existe. Nem o Jornal Nacional, e nem a Folha, e nem o Estadão.

Eles pertencem à Geração Digital, e formam suas opiniões a partir de outras coisas que não o conteúdo das grandes empresas jornalísticas.

Os múltiplos vídeos que se espalham pelas redes sociais mostram quanto são articulados e politizados.

Num deles, uma garota é perguntada por um repórter da Globo sobre quanto tempo iria durar a invasão de determinada escola.

“Invasão não”, ela responde prontamente. “Ocupação.”

Clap, clap, clap.

São dois lados antagônicos que se enfrentam. Qual deles vai triunfar?

É absolutamente previsível que seja o lado jovem. Em poucos anos estes jovens estudantes serão adultos, e levarão a São Paulo seus valores progressistas.

É muito mais fácil vê-los pedalando bicicletas do que xingando ciclistas em carrões.

É muito mais fácil vê-los clamando justiça social do que pedindo que militares matem comunistas.

É muito mais fácil vê-los falando contra a desigualdade e não repetindo velhíssimos clichês ligados à corrupção.

É muito mais fácil vê-los combatendo preconceitos do que alimentando-os.

São Paulo pareceu mumificada em boa parte de 2015.

Mas eis que meninas e meninos ocuparam escolas prestes a fechar e devolveram a todos nós, paulistanos, a esperança de uma cidade mais humana – e melhor.