
O anúncio de sanções do governo dos Estados Unidos contra cinco personalidades europeias ligadas à defesa de uma regulação mais rígida das grandes plataformas digitais provocou uma escalada de críticas na Europa. Entre os alvos está o francês Thierry Breton, ex-comissário europeu do Mercado Interno, além de dirigentes de organizações que atuam no combate à desinformação e ao discurso de ódio online. As medidas incluem a proibição de entrada dessas pessoas em território americano.
A decisão foi justificada pelo Departamento de Estado dos EUA sob o argumento de que essas lideranças estariam envolvidas em práticas de “censura” prejudiciais aos interesses americanos. O secretário de Estado Marco Rubio afirmou que autoridades europeias pressionam plataformas americanas a restringir opiniões vindas dos Estados Unidos e disse que o governo de Donald Trump não aceitará mais o que chamou de “censura extraterritorial”.
A reação mais dura veio do general francês Nicolas Richoux, consultor em defesa, que classificou a postura americana como uma mudança estrutural nas relações transatlânticas. “Os Estados Unidos tornaram-se agora um adversário sistêmico. Medidas semelhantes de proibição de entrada no espaço Schengen são indispensáveis, a menos que a Europa aceite baixar a cabeça. O problema é que muitos na Europa só escutam a própria coragem — que, em geral, não lhes diz grande coisa”, declarou Richoux.

O espaço Schengen é a área de livre circulação que reúne 27 países europeus e permite a entrada e o deslocamento sem controle de fronteiras internas entre seus membros. Criado para facilitar a mobilidade de pessoas, ele também funciona como um instrumento político e diplomático do bloco. Ao defender restrições de entrada nesse espaço, Richoux sugere uma resposta direta e simétrica às sanções impostas por Washington.
O governo francês também reagiu oficialmente. O ministro das Relações Exteriores Jean-Noël Barrot condenou “com a maior firmeza” as sanções e afirmou que os povos europeus são livres e soberanos para definir as regras que regem seu próprio espaço digital. Segundo ele, a decisão americana representa uma ingerência direta sobre políticas públicas da União Europeia.
Além de Breton, foram sancionados representantes de ONGs como Imran Ahmed, Clare Melford, Anna-Lena von Hodenberg e Josephine Ballon, ligados à ONG alemã HateAid. A inclusão dessas lideranças ampliou o mal-estar diplomático e levantou questionamentos sobre o impacto das sanções na atuação da sociedade civil europeia.
O embate ocorre no contexto da ofensiva do governo Trump contra o arcabouço regulatório europeu para o setor de tecnologia, considerado o mais avançado do mundo. Para setores políticos e militares da Europa, as sanções indicam que a disputa deixou o campo econômico e regulatório e passou a assumir contornos geopolíticos, com efeitos diretos sobre soberania digital e o futuro das relações entre Europa e Estados Unidos.