Os furos no currículo do novo ministro da Educação. Por Marcos Danhoni

Atualizado em 22 de abril de 2022 às 8:39
Victor Godoy Veiga

Por Marcos Danhoni

O “novo” ministro da Educação, Victor Godoy Veiga, torna-se o quinto da pasta pós-golpe de 2018 (reedição do golpe de 2016). Sucedeu quatro outros irresponsáveis e ineptos para gerenciar e traçar diretrizes para a educação pública brasileira.

O primeiro deles, Ricardo Vélez durou três meses no cargo. Não falava português direito e tinha como currículo palestras na Escola Superior de Guerra. O segundo, Abraham Weintraub, durou um ano e dois meses. Apesar de professor da UNIFESP, apresentava um currículo Lattes de uma única página, com escassíssima produção científica. Emulou frases do governo do führer e difamou as universidades brasileiras o quanto pôde. Caiu após as revelações de uma reunião ministerial em que destilou ódio a todos as Instituições da República.

O terceiro, Carlos Decotelli, durou 2 dias! Caiu após verificação de falsificações ideológicas em seu Currículo Lattes. O quarto, Milton Ribeiro, durou um ano e nove meses. Apesar de ter sido reitor de uma Universidade, a Mackenzie (sempre de Direita), era considerado uma espécie de pastor, sem nenhuma produção científica, e crente na pseudoteoria criacionista bíblica. Caiu após receber pastores no MEC e negociar verbas para prefeituras mediante pagamento de propinas (inclusive em ouro). Chegou a conceder recursos ministeriais a prefeituras desviados para construção de templos religiosos evangélicos e impressão de Bíblias para serem distribuídas em escolas e com direito a foto sua nos exemplares impressos.

Necessário dizer que após a saída de Weintraub, Renato Feder, Secretário de Educação do Governo Ratinho (PR), foi sondado para ser o novo ministro, mas acabou recusando diante das críticas de que era um lobista de sua própria empresa Multilaser (importadora de quinquilharias eletrônicas e digitais da China). O MEC teve um mês de vacância do cargo até a posse de Milton Ribeiro.

A média temporal de cada ministro no desgoverno Bolsonaro é inferior a nove meses: o tempo de gestação de cada besta destruidora da Educação pública nacional.

Agora, o braço direito de Milton Ribeiro, Victor Godoy Veiga, é guindado ao cargo de um dos mais importantes Ministérios da República. Não possui nenhuma formação ou produção na área de Educação.

Em seu Currículo Lattes consta o ano de ingresso numa graduação (1999), mas não o seu término (o currículo foi atualizado pelo autor em 29/04/2021) em Engenharia de Redes. A informação nesse item indica: “graduação em andamento …”. Desde 1999, ou seja, 23 anos!!!

Alega ter duas especializações (2011-12 e 2018) em áreas temáticas como: “Globalização, Justiça e Segurança Humana” e “Altos Estudos em Defesa”. Constata-se, pois, a total inépcia desse sujeito na área de educação.
Na síntese de seu currículo escreve que é Secretário Executivo do MEC e que foi chefe da Diretoria de Acordos de Leniência da Controladoria Geral da União (CGU) entre 2019 e 2020. Na síntese, afirma que se bacharelou em Engenharia de Redes de Comunicações de Dados pela Universidade de Brasília, em desacordo com o campo GRADUAÇÃO no currículo (que continua com data aberta desde 1999).

Sobre sua especialização em Segurança Humana pela Escola Superior do Ministério Público Federal, salienta que era em parceria com a Universidade de Böchum e com a Universidade de Joanesburgo.
Alega também que tem quinze anos de experiência em auditoria em agências federais, tendo sido membro de vários comitês de leniência responsáveis por apurar casos de corrupção, incluindo alguns relacionados a suborno transnacional.

Finaliza sua síntese curricular (expressa num Lattes da dimensões de uma única folha A4), afirmando que foi responsável pela supervisão e monitoramento de todos os comitês de acordos de leniência na CGU durante o exercício da Diretoria de Leniência, além de ter sido “professor-convidado”, segundo ele, da Fundação Getúlio Vargas, entre 2019 e 2020, no curso de Direito para o tema “Compliance”, na disciplina Lei Anticorrupção (12846/2013).

Segue, pois, os modismos jurídicos (“compliance”) tão caros a criaturas decrépitas pós-golpes de 2016 e 2018, como Moro e Dallagnol.

Victor Godoy apresenta o currículo ideal para o ignorante neoliberal que fechará o ciclo bolsonarista da destruição da educação pública brasileira em todos os níveis. Seu nome ficará marcado na História junto com o de todos aqueles que participaram desse desgoverno e que relegaram o país a uma das periferias mais empobrecidas e esquecidas do planeta.

*Marcos Cesar Danhoni Neves é professor titular da Universidade Estadual de Maringá e autor do livro “Lições da Escuridão”, entre outras obras