Os generais e o núcleo ideológico liderado por Carluxo. Por Moisés Mendes

Atualizado em 26 de outubro de 2020 às 8:51

Originalmente publicado por BLOG DO MOISÉS MENDES

Por Moisés Mendes

É muito estranha essa história de que haverá um duelo mortal entre a ala militar e o núcleo ideológico do governo, depois da briga de Ricardo Salles com o general Luiz Eduardo Ramos. Que ala ideológica é mesmo essa?

Quem for tentar descobrir, para ir além da superfície das notícias que a imprensa repete, verá que os generais estão numa situação ruim.

Primeiro porque Bolsonaro não teme criar inimigos entre os generais dissidentes do governo. Já mandou sete embora.

Há duas semanas, espalhou para os jornalistas amigos que Hamilton Mourão não será, de jeito nenhum, seu vice na chapa para 2022. Está cansado de ver Mourão ao seu lado.

Logo depois de desprezar Mourão, Bolsonaro foi ao hotel em que o ministro Eduardo Pazuello está se recuperando da Covid-19. O general, meio sem forças, foi ‘convidado’ a fazer um vídeo pedindo desculpas por ter dito que o governo iria comprar a vacina chinesa.

Na sequência, Ricardo Salles chamou de Maria fofoca o ministro e general Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, porque este teria espalhado que Salles tenta desafiar o poder dos militares em relação à Amazônia.

E agora? Qual será o general da vez esta semana? Pois corre em Brasília que os generais e os civis do chamado núcleo ideológico de Bolsonaro vão para o confronto, para ver quem tem mais força.

É uma situação complexa, porque os militares sustentam o governo, mas Bolsonaro foi quem arranjou emprego pra eles.

E que grupo ideológico é esse que eles irão enfrentar? Seria a turma comandada por Bolsonaro e manobrada pelos garotos, o Carluxo, o Flávio e o Eduardo, mais Olavo de Carvalho.

O grupo parece se confundir, mas não tem as mesmas feições de outras alas, como a fundamentalista, integrada por Damares Alves e o ministro da Educação, Milton Ribeiro.

Paulo Guedes e Tereza Cristina também não têm nenhuma relação com esse núcleo ideológico e compartilham apenas a ideia geral de que trabalham para um governo de extrema direita a serviço do que seria o ultraliberalismo econômico.

Os dois não querem brigas, querem obter vantagens. No caso dele, liberdade para vender o país e agradar os banqueiros e, no caso dela, para liberar venenos para a lavoura e fazer os grileiros avançarem na Amazônia e no Pantanal, para que o agro seja cada vez mais pop.

Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional, é um moderado desse grupo liberal. Onyx Lorenzoni nem sabe mais de que ala é. O ministro astronauta deve estar na ala do mundo da lua.

André Mendonça não tem pique nem histórico para acompanhar esse pessoal. Os outros são os outros, ninguém sabe, nem Bolsonaro, que eles existem.

Mas então é de se perguntar: quem seria, afinal, o grupo ideológico de que tanto fala a imprensa? O núcleo tem Ernesto Araújo e Ricardo Salles? Um grupo de dois, liderados pelos garotos e por Olavo de Carvalho? Um núcleo, um grupo, uma ala desse tamanho?

O núcleo ideológico, que vai enfrentar os militares, tem apenas dois ministros e os garotos, com as ordens remotas que Olavo manda da Virgínia?

É isso mesmo então? Os generais de Bolsonaro estão preocupados com o forte núcleo de Salles e Araújo e seus ajudantes? Deve ser brincadeira.

Se a vida eterna existe mesmo, os generais da ditadura não podem ficar sabendo, lá onde possam estar nesse momento, que os generais de hoje se preparam para enfrentar Ernesto Araújo, Ricardo Salles,
Carluxo e seus auxiliares do Gabinete do Ódio.

Os generais merecem inimigos mais qualificados. É trágico.