Os golpistas transformaram o Brasil num hospital psiquiátrico, e Temer comemora. Por Joaquim de Carvalho.

Atualizado em 5 de julho de 2017 às 19:33
Os donos da Globo também comemoram, enquanto sua tropa caça o presidente

O advogado de Michel Temer, Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, utilizou uma imagem de hospital para explicar como ele classifica o ânimo de seu cliente.

Governo na UTI?

Não, ele está na lanchonete do hospital, comemorando.

“Eu não sou médico, não conheço bem a divisão do hospital, mas eu diria que está na lanchonete do hospital. Está comemorando, está pensando, está trabalhando pelo País”, afirmou.

Comemorando…

Mariz acertou ao definir o país como um hospital. Poderia ser mais preciso e dizer que é um hospital psiquiátrico.

Só a loucura explica os últimos acontecimentos.

O Brasil inteiro ouviu Aécio Neves negociando vantagens a um empresário corrupto, ao mesmo tempo em que acerta o recebimento de 2 milhões de reais.

O Brasil viu o acordo sendo cumprido, com o registro em vídeo da entrega de malas de dinheiro para um preposto do presidente do PSDB.

O Brasil viu Aécio, “chefe de família, de carreira notável”, em sua volta ao Senado Federal.

O Brasil ouviu Michel Temer designando o então deputado Rodrigo Rocha Loures com seu representante nas conversas menos difíceis com Joesley Batista.

O País viu o representante de Michel Temer correndo com uma mala de 500 mil reais, a primeira de uma parcela semanal acertada para os 25 anos seguintes.

Para ele e para Temer.

Alguma dúvida de que se tratam de ladrões?

Agora, do outro do hospital, enquanto o paciente agoniza, outro grupo se movimenta.

Um deputado ligado à TV Globo consegue a relatoria da denúncia por corrupção passiva contra Michel Temer.

A Globo, como informam seus porta-vozes, quer o fim do governo de Michel Temer.

E quem é o primeiro na linha de sucessão? Rodrigo Maia.

Ele já se reuniu com a presidente do Supremo Tribunal Federal, Carmen Lúcia, para dizer que, na desgraça de Temer, fará cumprir o regimento da Câmara.

Respeitará a regra do jogo.

Não sairá dos limites da lei.

Em outras palavras, reservou para Michel Temer a lei.

“Aos amigos, tudo. Aos inimigos, os rigores da lei”, diz frase cuja autoria é atribuída a Getúlio Vargas.

Assim Temer perdeu seu principal aliado na Câmara.

E a partir de agora, terá no parlamento a cara de Carlos Marun, do Mato Grosso do Sul.

Falta no Congresso um Michel Temer, que em 1997 agiu decisivamente para salvar um presidente na berlinda.

Era Fernando Henrique Cardoso, no centro do escândalo da compra de votos para aprovar a emenda da reeleição.

Circula pelas redes sociais um recorte do jornal O Globo, de 17 de maio de 1997, que revela que Temer havia salvado o mandato do então presidente.

“Bastou o presidente Fernando Henrique Cardoso entregar os ministérios dos Transportes e da Justiça para Eliseu Padilha e Íris Resende e os peemedebistas fizeram as pazes com o governo. O presidente da Câmara, Michel Temer, Eliseu Padilha e o líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima, fecharam neste final de semana a estratégia para abafar o escândalo das denúncias da compra de votos na votação da reeleição”.

Impressionante é que a nota mostra uma quadrilha em ação, sempre agindo em bloco.

Isso há muito tempo.

Se, até domingo, a saída de Temer com a denúncia da Procuradoria da República era altamente improvável, agora parece iminente.

Temer conhece o caminho para persuadir parlamentares – Dilma não teria caído não estivesse do outro lado seu vice.

Ou alguém tem dúvida de que Eduardo Cunha sempre agiu conectado a Temer?

O problema de Temer é que, do outro lado, agora se encontra a TV Globo, que também age em bloco.

Temer fez o jogo da Globo até onde pode.

Um deputado me contou que, em 1998, quando se discutiu o cassação de Sérgio Naya, por causa do desabamento do Palace, parte dos deputados se opunha à medida.

Em uma reunião, ao lado de Geddel, Temer encerrou o assunto com o argumento:

“Vamos cassar o Sérgio Naya porque a Globo quer que a gente casse”.

Agora, a Globo quer caçá-lo (com cedilha mesmo, como sugeriu o apresentador William Bonner).

Em seu lugar, se apresenta Rodrigo Maia, o político que se apresentou a empresários em São Paulo como totalmente comprometido com as reformas que ceifam direitos sociais.

Uau.

Eles comemoram.

E o Brasil?

A parte até pouco tempo barulhenta assiste.

Conscientemente ou não, já fez sua parte e ajudou a derrubar a presidente constitucionalmente eleita.

Agora só assiste, enquanto eles disputam os despojos.