
Um estudo conduzido pela ONG More in Common, em parceria com a Quaest e coordenado pelo professor da USP Pablo Ortellado, revelou que 54% dos brasileiros não se enquadram na polarização entre lulismo e bolsonarismo. Esse grupo, descrito como “os invisíveis”, reúne eleitores conservadores em costumes, mas moderados em postura política, e pode ser decisivo nas eleições presidenciais de 2026.
Divididos entre “desengajados” e “cautelosos”, cada um representando 27% da população, esses eleitores demonstram baixo envolvimento em debates públicos e pouca identificação partidária. Segundo a pesquisa, 65% dos desengajados não se sentem representados por nenhuma legenda, e 30% votaram nulo, branco ou se abstiveram em 2022. Já entre os cautelosos, a maioria tem renda inferior a R$ 5 mil e vive em regiões rurais ou no Nordeste.
Apesar do afastamento da militância política, o grupo expressa opiniões consistentes sobre temas centrais. A maioria valoriza programas sociais, mas mantém posições conservadoras em costumes, como oposição ao uso de banheiros femininos por travestis e às cotas raciais. “A sociedade brasileira combina moralidade conservadora com defesa de proteção social”, explica Ortellado.

A pesquisa também mostra que esses eleitores rejeitam a radicalização e sentem desgaste com o tom de confronto entre direita e esquerda. A guardiã de piscina Joyce Soares, de 22 anos, ilustra esse sentimento: “O Brasil está dividido. Parece que não pode ter meio-termo, e eu não tenho político de estimação.” Essa percepção de esgotamento da polarização pode deslocar o debate eleitoral para temas econômicos e sociais.
O estudante Silas Guimarães, de 23 anos, resume o dilema desse eleitorado ao afirmar que “a direita é muito autoritária” e “a esquerda não tem plano de segurança”. Ele diz se considerar “do centrão”, com simpatia por pautas progressistas na educação, mas críticas ao que vê como excessos dos direitos humanos no combate ao crime.
Para analistas, esse centro difuso representa o “voto flutuante” mais cobiçado de 2026. A cientista política Lilian Sendretti, do Cebrap, avalia que o cansaço com o extremismo pode reduzir o peso das pautas de costumes na próxima disputa. “Há tendência de que temas sociais e econômicos voltem a dominar o debate eleitoral”, afirma.