Os justiceiros do Flamengo e a jovem negra que protegeu um neonazi de ser espancado pela turba

Atualizado em 10 de novembro de 2014 às 15:10
Keshia Thomas impede que um neonazi seja surrado
Keshia Thomas impede que um neonazi seja surrado

 

A atitude de uma adolescente negra nos anos 90 teria muito a ensinar a Rachel Sheherazade, a apresentadora de extrema-direita do SBT, se Rachel não fosse o que é. Em 1996, Keshia Thomas, então com 18 anos, evitou o linchamento de um simpatizante da Ku Klux Klan.

Tudo aconteceu em uma manifestação da KKK em Ann Arbor, Michigan, cidade natal de Keshia. Multicultural, liberal e centro de movimentos pelos direitos civis, a cidade não era o lugar mais receptivo para os 17 membros da organização racista.

Cerca de 300 militantes anti-KKK foram protestar contra a marcha. Entre eles estava Keshia. O grupo empunhava cartazes e gritava para os mascarados da Klan, quando alguém avistou na multidão um homem com uma camisa com o emblema dos Confederados e um SS tatuado no braço.

Os liberais perseguiram o simpatizante da Klan, o agrediram com golpes de bastões e o jogaram no chão.

Keshia não se deixou levar pela turba ignara. Após alguns segundos de reflexão, percebeu que um protesto justo poderia se transformar em barbárie e resolveu intervir. Em um ato improvável para a situação, foi ao encontro do homem caído e o protegeu dos agressores.

Arriscou a própria integridade física para proteger e salvar alguém que possivelmente não faria o mesmo por ela e entrou para a história por praticar a tolerância ao fugir das imposições do senso comum. Sou entendedor raso da Bíblia, mas acho que na ação da americana há um resumo perfeito dos princípios cristãos.

Não fosse cega pelo ódio, bastaria a Sheherazade ver a foto de Keshia abraçada ao inimigo para refletir antes de sair defendendo violações aos direitos humanos, como o espancamento de um adolescente suspeito de roubo por jovens de classe média na Zona Sul do Rio de Janeiro.

Já que Keshia teve serenidade para fazer a coisa certa no meio de uma multidão furiosa, por que Sheherazade não conseguiria elaborar um comentário menos criminoso no ar condicionado da redação?

A matéria sobre a atitude de Keshia Thomas pode ser lida aqui: http://www.bbc.co.uk/news/magazine-24653643