Os melhores e os piores motoristas de táxi do mundo

Atualizado em 26 de fevereiro de 2013 às 8:41

Você conhece uma cidade pelos seus taxistas.

Black-cab

De Lisboa

VOCÊ CONHECE UMA CIDADE pelos seus motoristas de táxi.

Há um índice informal consagrado na economia que mede o custo de vida de um lugar pelo preço de um sanduíche da rede McDonald’s. Você pode fazer uma comparação confiável de acordo com o quanto as pessoas pagam pelo seu BigMac.

Também pela vida dos taxistas dá para você ver as diferenças entre países e cidades. Os motoristas de táxi de Lisboa trabalham duro como os de São Paulo. São jornadas entre 1 e 14 horas por dia, seis vezes por semana ou até sete, dependendo das dívidas. Não é à toa que eles trabalham também como espécies de guias turísticos. Quando você pega um táxi em Lisboa, é quase inevitável que o motorista pergunte se você não quer dar um giro pelos arredores a um preço camarada.

Para quem vem de Londres, o táxi em Lisboa é irresistível. Você paga mais ou menos um terço em comparação com os magníficos black cabs londrinos. Não é a mesma coisa, é verdade. Os taxistas em Londres são submetidos a um duríssimo exame no qual, basicamente, têm que mostrar conhecer cada rua da cidade.

São os melhores táxis do mundo. Mas provavelmente os mais caros. Uma alternativa boa em Londres são os minicabs. São de uma qualidade inferior, mas ainda assim bem aceitáveis. Você liga, diz para onde vai e combina o preço antecipadamente. Sem chance de girarem a esmo apenas para a corrida ficar mais cara, como fazem os ciganos búlgaros que infestam os táxis de Praga. O pior táxi do mundo é provavelmente o de Praga. Os ciganos búlgaros não cumprimentam você, olham feio e roubam vergonhosamente. Se você pensa no clássico de Sérgio Leone “O Bom, O Mau e Feio” para adaptá-lo aos táxis, em Praga você encontra os dois últimos.

TÁXI EM PRAGA FAZ JUS AO NOME DA CIDADE

Os do Rio sorriem, mas não são muito diferentes. Uma vez, perdi a carteira num táxi de São Paulo. O motorista foi até o escritório me devolver. Algum tempo depois, esqueci a mesma carteira num táxi no Rio que me deixara em frente à Globo. Mesmo sabendo onde eu estava, o motorista jamais devolveu a carteira.

Os motoristas de táxi de Paris, mesmo não sendo franceses, se comportam como se fossem. São arrogantes, maleducados e preguiçosos. E difíceis: encontrar um táxi em Paris quando você mais precisa é duro. Parece que ele está fazendo um favor a você. Há muitos lugares para que eles parem os carros na cidade. Mas essa parada é menos para pegar passageiros e mais para dormir ou bater papo. De uma coisa gosto dos táxis em Paris: um dispositivo que controla as jornadas num máximo de 11 horas por dia.

A melhor vida de motorista de táxi que encontrei na Europa foi em Berlim. Um motorista típico trabalha cinco vezes por semana, oito horas por dia. O taxista que me levou ao aeroporto de Berlim depois que fui cobrir os 20 anos de queda do Muro me contou que tiraria férias em fevereiro para fugir do frio e iria para o sol das Canárias.

O que une todos os taxistas do mundo são os queixumes.

Um motorista que levou minha caçula Camila e a mim a Sintra disse que Portugal está perdido. O primeiro-ministro Sócrates é fraco e mesmo assimé melhor que o presidente Cavaco Silva, segundo ele. Também não há ninguém novo que dê esperanças de renovação, ele me conta. A entrada no euro foi péssima para o país, mas sair do euro e retornar ao escudo seria um horror, disse o taxista. Ele gostaria de trabalhar em Paris. Lá, o salário mínimo são 1 000 euros contra 450 de Portugal. Mas não fala francês, e os franceses são tão insuportáveis, diz ele, que não querem falar outra língua.

Você conhece uma cidade pelos seus motoristas de táxi, como eu disse. É por isso que, sempre que posso, os interrogo inclemente sobre sua vida, seus hábitos, suas idéias como se fosse, bem, como se fosse um jornalista.