Os mistérios da casa 58. Por Moisés Mendes

Atualizado em 30 de outubro de 2019 às 6:54
Bolsonaro e Lessa: vizinhos

Publicado originalmente no blog do autor

POR MOISÉS MENDES

Dúvidas sobre o caso do motorista Elcio Queiroz, que entrou no condomínio da Barra da Tijuca, no dia 14 de março do ano passado (data do assassinato de Marielle Franco), dizendo que iria à casa de número 58, de Jair Bolsonaro, e seguiu de carro até a casa de Ronnie Lessa, que horas depois iria matar a vereadora.

1. O porteiro não só assegura que o motorista pediu para ir à casa 58, de Bolsonaro, como registrou na mesma hora, no caderno da portaria, que o destino era aquela casa, a casa 58.

2. Uma hipótese levantada não vai prosperar. É a de que o motorista teria dado um carteiraço, ao dizer que iria à casa de Bolsonaro, apenas para despistar. O furo nessa hipótese é elementar: se disse que iria à casa 58, ele teria que ter combinado com alguém de dentro da casa 58.

3. O porteiro diz que falou com “o seu Jair”. Mas há provas de que Jair Bolsonaro estava em Brasília naquela hora, 17h10min.

4. Quando percebeu, pelas câmeras internas, que o motorista se dirigiu à casa de Lessa, o porteiro contou (pelo relato à polícia) que entrou de novo em contato com “o seu Jair”. E que esse disse que sabia que Elcio iria à casa de Lessa. Que estava tudo bem.

5. As conversas da portaria com visitantes e moradores são registradas. As gravações ainda existem?

6. As investigações só irão prosperar se o Supremo autorizar as sindicâncias, já que envolvem o presidente da República. O pedido do Ministério Público está com o presidente do STF, Dias Toffoli. Toffoli irá autorizar, depois de ter tomado uma decisão que, no caso dos dados do Coaf, protegeu Flavio Bolsonaro?

7. Ronnie Lessa está preso. Ele é o matador de Marielle. O que Lessa disse à polícia a respeito dessas versões do porteiro?

8. É possível que Lessa, o porteiro e o motorista estejam tentando incriminar Bolsonaro? O plano seria tão perfeito, que tem até o registro da entrada de Elcio, feito no mesmo dia 14, como visitante da casa 58?

9. O porteiro pode de fato ter falado com Bolsonaro, que teria conectado o próprio telefone ao sistema de voz da casa (o conhecido siga-me)? Outra hipótese: Carlos Bolsonaro, o Carluxo, é morador do condomínio e o único dos três filhos que estaria no Rio. Foi ele quem deu a autorização?

10. Tudo pode ser coincidência. O motorista, o condomínio, o vizinho assassino, a visita do dia 14, as relações com os milicianos…