Os ateus são ‘mais pacíficos’

Atualizado em 27 de abril de 2014 às 17:02

A religião é uma das mais eficazes e sanguinolentas fontes de guerras, discórdias e matanças.

Torcedoras dinamarquesas na Copa de 2010
Torcedoras dinamarquesas na Copa de 2010

OS ATEUS são mais pacíficos?

É uma questão que emerge de uma das listagens mais interessantes que existem. É o GPI, Global Peace Index, fruto de um centro de estudos baseado em Londres.

Think tank, como são comumente chamados tais centros no mundo globalizado.

Tratei já do GPI neste espaço.  Especialistas trabalham com mais de 20 indicadores econômicos e sociais de 144 países e montam uma lista da paz e riqueza  mundiais.

Uma das coisas que impressionam, e têm despertado uma discussão vibrante, é a alta colocação dos países “ateus”, aqueles em que a maior parte das pessoas não acredita em Deus.  A Suécia, com 85% de ateus, cintila no GPI e em todas as análises comparativas de desenvolvimento  econômico, humano e social.  Bem como a Dinamarca, a Noruega , a Islândia e a Finlândia.

No caso do GPI, todos estes países escandinavos estão no topo.  O ateísmo é elevado em cada um deles.  Do lado oposto, as piores colocações são de países com religiosidade alta, seja muçulmana ou cristã. O Brasil, como em todo estudo de avanço sexual, tem uma posição brutalmente  medíocre. Ninguém corre o risco de ver Lula brandi-la na campanha, triunfal.

O GPI faz pensar. (Aqui, um vídeo organizou os números.)

Desde os primórdios da civilização, uma das razões mais comuns de conflitos é a religião. A Índia, para ficar num caso, foi golpeada duramente em seu progresso por conta da guerra sangrenta entre hindus e muçulmanos.  Um pedaço da Índia de dominação muçulmana acabou se tornando um país independente, o Paquistão, hoje no meio do caminho entre os jihadistas islâmicos e os mísseis americanos.

É revelador um vídeo que mostra Ophra, a apresentadora americana, indo a Copenhague para tentar descobrir por que a Dinamarca é o país mais feliz do mundo, segundo um outro estudo. (Estive lá também, pelo mesmo motivo.) Ophra junta um grupo típico de mulheres dinamarquesas e bate um papo.

São saudáveis, bonitas, articuladas, orgulhosas de seu país. Não são massacradas por plásticas, maquiagens, griffes.

Quando Ophra pergunta se acreditam em Deus, elas respondem prontamente que não. Uma diz que acredita na “humanidade”. Não há na resposta delas a arrogância vaidosa e agressiva de Juca Kfouri ao replicar uma observação de Kaká, aquele sentimento, oriundo sobretudo de quem militou em centros acadêmicos em que se decoram orelhas de Marx, de que “somos melhores que os crédulos”.

NÃO.

Elas falam com a alma leve.  Dizem também não acreditar tanto assim no casamento formal, o que não quer dizer que não possam ser boas mães e boas companheiras.

Não tenho a pretensão de esgotar uma discussão tão complexa aqui. Como o pastor de Updike que no meio de um sermão perde a fé, em algum momento deixei de crer. Não fiquei nem melhor e nem pior do que já era.

Também não tenho posição formada sobre a relação entre ateísmo e paz.  O homem que mais admirei na vida, meu pai, era profundamente religioso. Mas jamais  imaginou que sua fé fosse melhor que a de outros e nem tentou impô-la a quem quer que fosse. Meu romancista predileto, Graham Greene, era católico.

Mas muita gente pensa e age diferente de papai e de Greene.

São pessoas que consideram sua religião melhor, e estão dispostas a matar e morrer por isso.