Os partidos erraram ao se omitirem nos protestos contra o fascismo. Por Edson Domingues

Atualizado em 8 de junho de 2020 às 16:45
Manifestação no Largo da Batata, em SP
A sugestão dos partidos de esquerda para que fossem adiadas as manifestações deste domingo não encontrou eco. O bom número de pessoas no Largo da Batata e em inúmeras outras cidades brasileiras é maior sinal desta insubordinação.

Os argumentos de que a agenda de protestos traria riscos em razão da pandemia e da infiltração de agentes de inteligência não foram suficientes para estancar a insatisfação popular.

Cravado por setores progressistas, não sem razão o lema ‘saia de casa somente em extrema necessidade’, não bastou para a espontaneidade consumada neste domingo.

Antes, pela manhã, a classe médica promoveu ato em defesa do SUS em frente a Faculdade de Medicina da USP.

Em São Paulo compareceram ao ato alguns parlamentares de ligação com a luta agonizante do dia a dia da periferia.

Foi na periferia que eclodiu a organização do ato da Paulista (01/06) promovido pelas torcidas organizadas e prontamente engajada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Tetos – MTST.

Outras organizações estudantis e de trabalhadores também compareceram.

Resistência nas ruas
Durante a semana passada militantes e dirigentes da esquerda divergiam sobre questões menores como organização, local do possível ato, se participariam, se haveria violência, etc.

A mesma divergência insana permeou a pauta da semana sobre assinaturas de manifestos em defesa da democracia e contra o fascismo.

A questão de ordem, dos riscos a democracia e do avanço da extrema direita quase se perderam na infâmia dos debates.

Não há manifestação de rua sem agentes de inteligência infiltrados e/ou uso da violência policial para conter o grito da exclusão e da miséria.

Lambe-lambe nas paredes da capital paulista

Há na esquerda tradicional brasileira traços do Castilhismo, de esperança da conciliação, do recuo que jamais haverá pela extrema direita acoplada no Planalto Central.

Ao sugerir o adiamento das manifestações, os dirigentes dos partidos de esquerda perderam a noção do tempo, uma vez que o espaço já havia sido perdido para as forças conservadoras desde o Golpe de 16.

A pandemia trouxe em seu lastro o retrato da alta concentração de renda e riqueza em todo o mundo. Acrescida a brutal desigualdade econômica e social, o estopim da execução de George Floyd escancarou ainda mais as mazelas que a política do ‘rentismo’ nos legou.

Há aqueles que afirmam que é hora de uma ampla aliança até doer.

Ampla aliança sem ocupar as ruas não resultará em mudanças.

Se a recomendação é para sair de casa somente em extrema necessidade, a primeira de todas é ir às ruas contra o fascismo.

Edson Domingues é sociólogo e militante político em São Paulo.