
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) completou dois meses em prisão domiciliar, no último sábado (4), cumprindo a determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Confinado em sua residência em um bairro de classe média alta de Brasília, Bolsonaro tem dividido a rotina entre encontros políticos, consultas médicas e momentos de lazer diante da televisão, assistindo a jogos de futebol.
Nos últimos 60 dias, o ex-presidente recebeu mais de trinta visitas de políticos e aliados próximos, incluindo o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). As conversas têm girado em torno do cenário eleitoral de 2026 e de seus planos para reorganizar a direita.
Entre remédios espalhados pela casa e crises de soluço recorrentes, Bolsonaro tem enviado recados sobre possíveis candidaturas para o ano que vem e reforçado um tema recorrente: o pedido de anistia.
Antes de o Congresso aprovar a urgência do texto, Bolsonaro já havia deixado claro a quem o procura que não aceita negociações que não resultem em perdão amplo e irrestrito. Tentativas de parte da bancada do PL ligada ao Centrão de construir uma saída intermediária, com redução da pena para dois ou três anos e manutenção em regime domiciliar, não foram bem recebidas pelo próprio ex-presidente.
A articulação já encontrava dificuldades no Congresso e esfriou nesta semana quando o projeto de dosimetria relatado por Paulinho da Força (Solidariedade-SP) perdeu tração.

Nas conversas, Bolsonaro também tem dito que Michelle será candidata ao Senado pelo Distrito Federal; Eduardo disputará uma cadeira no Senado; e Tarcísio de Freitas está liberado para se articular nacionalmente.
A rotina do ex-presidente tem sido intensa também nos cuidados médicos. Em outubro, Bolsonaro precisou ser internado por dois dias em um hospital particular de Brasília. As crises de soluço e refluxo, que já vinham se intensificando, o levaram a fazer uma bateria de exames.
Desde a leitura da sentença condenatória no STF, o receio de ser transferido para o Complexo da Papuda virou preocupação constante no entorno do ex-presidente. A expectativa é que a condição clínica dele, porém, seja usada como argumento para manutenção do regime domiciliar.
Nesta semana, o ex-mandatário quase precisou retornar ao hospital. Segundo seu médico, Cláudio Birolini, os soluços se intensificam quando ele fala por longos períodos. Sua última crise ocorreu logo após a visita do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que passou pouco mais de duas horas em sua residência.
Na casa, a cena política acontece em um ambiente típico de enfermaria. A sala que já serviu de palco para transmissões ao vivo e encontros com pastores agora tem receitas médicas e caixas de medicamentos sobre a mesa. Entre chás e comprimidos para controlar o refluxo, Bolsonaro recebe aliados para conversar sobre palanques regionais e a disputa de 2026. O tom, no entanto, é mais contido: quem o visita nota a dificuldade em manter longas conversas sem que sejam interrompidas pelas crises de soluço.