Os policiais e as jornalistas

Atualizado em 14 de junho de 2013 às 12:17
A antiga rainha dos tablóides

 

As jornalistas não costumam ser exatamente pudicas. São, em geral, libertárias sexualmente. Isso é fato, e não há aí qualquer julgamento moral. Não vejo nisso nem virtude e nem defeito, apenas uma característica que resulta da cultura sem preconceitos das redações.

Não são poucas as jornalistas que flertam e seduzem para conseguir um furo. Escrevi aqui, recentemente, sobre a fotógrafa Margaret Bourke-White, uma das estrelas da Life nas décadas de 1930 e 1940. Bonita, charmosa, ambiciosa, Margaret fez fotos sensacionais na Europa, durante a Segunda Guerra Mundial. Programas com generais poderosos americanos abriam a ela portas fechadas para outros fotógrafos sem “seu equipamento”, como notou num telex célebre um colega de quem o diretor de redação da Life cobrava fotos de guerra tão boas quanto as de Margaret.

Todo mundo sabe do que as jornalistas são capazes. Ou melhor. Quase. A polícia metropolitana de Londres, aparentemente, ignorava. É o que sugere um documento que acaba de ser distribuído aos policiais londrinos. O objetivo é instruí-los sobre como lidar com a mídia, genericamente – e com as jornalistas mulheres, especificamente.

Por trás disso está o desgaste da polícia londrina no escândalo das escutas telefônicas ilegais do tablóide News of the World, o NoW, do magnata australiano da mídia Rupert Murdoch. Policiais apareceram no noticiário em situação desconfortável, por conta de propinas que facilitaram o trabalho do NoW.

No documento, recomenda-se tomar cuidado com “flertes” de mulheres jornalistas, sobretudo quando o cenário é um lugar em que haja álcool. Bebida, é lembrado à tropa, faz você falar mais do que deve.

No centro do escândalo das escutas está a jornalista Rebekah Brooks, a ex-rainha dos tablóides, uma ruiva de cabelos de beleza selvagem e olhos que parecem duas bolinhas de gude claras. Ela era editora do NoW no apogeu das violações telefônicas, e depois subira a um alto cargo executivo no grupo de Murdoch. (Ele aparentava ser louco por ela, como gritam as fotos em que ambos estão juntos.)

Brooks, que acabou perdendo o emprego, está numa reportagem da edição em curso da Vanity Fair como uma mulher que parece querer sexo com você no primeiro encontro, uma mestra na arte da sedução. Esse talento, mais que qualquer outra coisa, a teria levado ao topo da corporação de Murdoch, segundo o artigo da Vanity Fair, escrito por uma mulher.

Bem, considero a ação da polícia londrina um triunfo da esperança. É preciso muito mais que um documento frio para evitar que homens sucumbam à graça calculada e imensa de mulheres dispostas a tirar proveito profissional da patética, eterna, gigantesca, incorrigível  fraqueza masculina.