A delação premiada de Ronnie Lessa, ex-policial militar e assassino confesso da vereadora Marielle Franco (PSOL), revelou informações cruciais sobre os mandantes do crime, participantes do plano e motivação por trás do homicídio. Além disso, os depoimentos apresentaram detalhes do planejamento da execução, envolvendo até mesmo um suposto “infiltrado” no PSOL e ordens para evitar monitoramento na Câmara Municipal do Rio.
Segundo Lessa, a execução de Marielle foi encomendada pelos irmãos Domingos (União Brasil-RJ), deputado federal, e Chiquinho Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Rio. O ex-policial descreveu encontros secretos com os irmãos entre 2017 e 2018, nos quais recebeu instruções específicas, incluindo a orientação para evitar seguir Marielle a partir da Câmara Municipal. Essa determinação partiu de Rivaldo Barbosa, delegado da Polícia Civil, que tentou evitar que a execução aparentasse crime político.
O colaborador também relatou que os Brazão estavam recebendo informações privilegiadas de um “infiltrado” no PSOL, que considerava Marielle uma opositora aos interesses do clã na Zona Oeste do Rio. Essas informações, de acordo com Lessa, influenciaram na decisão de executar a vereadora.
“Deste modo, os elementos apresentados pelo discurso do colaborador podem ser sintetizados em duas questões primordiais: a suposta animosidade dos BRAZÃO com integrantes do PSOL, apontada por conta de levantamentos de políticos da legenda que teriam sido solicitados por MACALÉ, no interesse dos Irmãos, e a atuação de Marielle Franco junto a moradores de comunidades dominadas por milícias, notadamente no tocante à exploração da terra e aos loteamentos ilegais”, aponta o relatório da PF.
Além disso, o ex-PM afirmou que Barbosa, preso no último domingo (24), atuaria para “defletir” as investigações e garantir a impunidade do caso. O relatório da Polícia Federal destaca que os irmãos Brazão orientaram o executor em vários aspectos do crime, incluindo o momento exato da execução.
A delação também revelou que Lessa foi contratado para outro assassinato: o da ex-presidente do Salgueiro, Regina Celi, por um contraventor chamado Bernardo Bello. Esse segundo crime, segundo Lessa, foi apresentado por outro criminoso identificado como Macalé, com quem tinha uma relação de confiança.
O relatório da investigação da PF conclui que não há dúvidas sobre a motivação dos irmãos Brazão para o assassinato de Marielle, destacando que uma divergência política em relação à regularização fundiária na Zona Oeste do Rio esteve por trás do crime.