Os R$ 30 milhões que Bolsonaro recebeu em um ano

Atualizado em 21 de agosto de 2025 às 17:45
Jair Bolsonaro durante depoimento no STF. Foto: Antonio Augusto/STF

A Polícia Federal apontou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) movimentou R$ 30 milhões em suas contas bancárias entre março de 2023 e fevereiro de 2024. Os dados constam em relatório produzido a partir de informações do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que classificou as transações como atípicas e enviou os registros às autoridades. O documento indica indícios de “lavagem de dinheiro e outros ilícitos” em meio às operações financeiras do ex-mandatário.

De acordo com a PF, a maior parte do dinheiro foi destinada ao pagamento de advogados e a aplicações financeiras. “No período de 01/03/2023 a 07/02/2024, foram movimentados R$ 30.576.801,36 em créditos e R$ 30.595.430,71 em débitos”, diz o relatório. Só em honorários advocatícios, dois escritórios que defendem Bolsonaro receberam R$ 6,6 milhões.

O relatório detalha ainda que “quanto aos débitos, mais de cinquenta por cento do valor total movimentado no período referem-se a aplicações em CDB/RDB, concentradas em 6 lançamentos, que somaram R$ 18.325.000,00”. Segundo a PF, o padrão dos depósitos e transferências levanta suspeitas sobre a origem e o destino final dos recursos.

Outro ponto identificado pela investigação foi um aumento expressivo nas movimentações entre dezembro de 2024 e junho de 2025, quando o ex-presidente movimentou R$ 22 milhões.

Nesse intervalo, Bolsonaro transferiu R$ 2,1 milhões ao filho Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e outros R$ 2 milhões para a esposa, Michelle Bolsonaro. A Polícia Federal avalia que os repasses ao deputado serviram para financiar ações dele nos Estados Unidos contra o governo brasileiro, enquanto os depósitos para Michelle teriam o objetivo de driblar eventuais bloqueios judiciais nas contas do ex-presidente.

Eduardo e Jair Bolsonaro. Foto: reprodução

As operações fazem parte do inquérito que apura tentativa de obstrução de Justiça no julgamento da ação penal sobre a tentativa de golpe de Estado. Nesse processo, tanto Bolsonaro quanto Eduardo foram formalmente indiciados pela PF. O relatório também identificou movimentações atípicas de Michelle e de outro filho do ex-presidente, o vereador carioca Carlos Bolsonaro (PL).

Michelle recebeu créditos de R$ 2,9 milhões entre setembro de 2023 e agosto de 2024, além de gastar R$ 3,3 milhões no mesmo período.

A maior parte dos recursos veio da MPB Business, empresa da qual é sócia, que transferiu R$ 1,9 milhão para a ex-primeira-dama. Já Eduardo Bolsonaro, além dos R$ 2,1 milhões recebidos do pai, realizou uma operação de câmbio que envolveu R$ 1,6 milhão.

Carluxo, por sua vez, movimentou R$ 4,8 milhões entre setembro de 2023 e agosto de 2024. Entre os registros está o recebimento de R$ 700 mil pagos pelo empresário Mario Pimenta de Oliveira Filho, referentes à compra de um apartamento na Tijuca, no Rio de Janeiro.

Oliveira Filho confirmou o pagamento e relatou que só descobriu que o imóvel pertencia ao filho do ex-presidente no cartório, durante a assinatura da documentação. “Não sabia que era dele. Pela documentação, vi que pertencia a ele desde 2003, salvo engano. Não sou do ramo da política, sou comerciante”, declarou.

O empresário explicou que mora no mesmo prédio e comprou o apartamento para abrigar uma familiar com problemas de saúde, mas que posteriormente decidiu colocá-lo novamente à venda.

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.