Os ratos do esgoto bolsonarista da internet começam a mostrar o focinho. Por Pedro Zambarda

Atualizado em 4 de março de 2019 às 12:59
Leonardo Oliveira (à esquerda) num vídeo da fan page de Ênio Mainardi

“Eu não sei mais o que é real e o que não é, porque é tão estimulado. Na televisão você tem ali, mas na internet você pode replicar, discordar e isso cria uma bola de neve que ninguém confia em ninguém”, diz o publicitário e diretor de arte Leonardo Oliveira num vídeo da fanpage A Reunião publicado em 25 de outubro de 2018. A página foi criada por Ênio Mainardi, também publicitário e pai de Diogo Mainardi, o ex-Veja e editor do blog de extrema direita O Antagonista.

Leonardo, conhecido como “L0en” no Twitter, criou e teve contas apagadas na rede social. Em 2015, ele foi responsável pela fanpage de Facebook “Humans of PT”, que atacou celebridades como Gregório Duvivier, PC Siqueira e o próprio Jean Wyllys. A mesma página também atacou desconhecidos que nunca votaram no PT, mas tiravam sarro de Aécio Neves, e chegou a criar uma loja de camisetas pró-Bolsonaro chamada Oprestore. O DCM contou essa história em 2016.

A nova de Leonardo é um podcast gravado neste ano. Ele fez parte de um uma série de programas chamado “Ninguém se importa”. De todas as gravações, 16 delas ainda estão online na data de publicação desta reportagem no Soundcloud. Dois programas contam com a participação de Leonardo Oliveira.

Um deles, que está fora do ar, foi obtido com exclusividade pelo DCM de fontes que pediram anonimato. Seria a terceira participação de Leonardo no programa. Ele tem uma hora e 27 minutos de duração.

No minuto 27, Leonardo confessa que criou fake news sobre Jean Wyllys. “Outro dia eu tava neurótico com fake news, do tipo ‘será que fake news que a gente tá fazendo zoando tá certo ou tá errado’? Falar que o carro HB20 do Adélio [Bispo, o homem que deu a facada em Bolsonaro] tá no nome do Jean Wyllys”.

E ele complementa, criando outra fake news: “comecei a pensar que era certo. O Jean Wyllys falou que ele tá exilado e foi morar na Alemanha. Os caras mentem sem parar o dia inteiro. Então tem que bater com a mesma força nos caras, sim. Por que o Jean Wyllys ligou pro presidente da Vale 25 vezes no dia que explodiu Brumadinho? Por quê? Explica essa pra mim, Brasil”.

O podcast é conduzido também por Hiram Galdino, conhecido no Twitter como @estadohiramico, e “Gugu Faraó”, outra figura da extrema-direita que troca de nicks dentro da rede social. O presidente Jair Bolsonaro segue Hiram na rede e ele esteve com o governante em Davos.

Na mesma gravação a que o DCM teve acesso, os autores do podcast também falam de forma racista e preconceituosas com mulheres e aproveitam para atacar a ex-presidente Dilma.

Em uma hora e cinco minutos de gravação, Hiram diz o seguinte: “o baiano é engraçado, você sabe quando é baiano pelos óculos amarelados, calça com bolso na canela e [um carro modelo] Kadett. Baiano adora um Kadett”. Na mesma parte da gravação, Gustavo e Hiram falam de sexo e soltam, de maneira preconceituosa: “mas o que me atrai mesmo é só as baianas gostosas, as negonas dançando. Pelo menos isso aí é o que tem de mais especial na Bahia. Porque de resto é tudo bosta”.

Rodando mais cinco minutos de podcast, Leonardo Oliveira diz que gostaria de entrar na política, no cargo de vereador. “É 15 mil votos, easy, vou me candidatar sim em 2020, to esperando um partido me aceitar. É 30 pau [30 mil reais] mais a grana do gabinete. Vereador deve ser uns 15. Imagina eu com 15 pau”.

No mesmo diálogo, Hiram solta: “nosso erro foi não ter ido nessas eleições, viajamos”. E Gustavo complementa: “se o Frota conseguiu, vocês conseguem”.

Ao longo da gravação, os três afirmam que as mulheres são o verdadeiro “mal da humanidade” e, com uma hora e 18 minutos de gravação, atacam a ex-presidente Dilma Rousseff.

Falam sobre fazer estuprar Dilma fantasiados de Ustra pra “ela ficar molhada”, além de “se vestir de rato e chupar ela”. Um deles solta: “o único torturado foi o rato, que merece a pensão”.

A fonte define muito bem os três comunicadores no podcast: “é a síntese do esgoto que está aliado aos filhos do presidente no Twitter fazendo o serviço sujo de fake news”. Um deles, Leonardo Oliveira, admite na gravação.

Provavelmente um deles se tocou do risco dessa gravação e tirou o conteúdo do ar.

A Agência Pública publicou uma reportagem no dia 11 de fevereiro rastreando algumas das fake news que tentavam associar a facada em Bolsonaro com Jean Wyllys. Em comum, as postagens de Olavo de Carvalho, Lobão e outros nomes da extrema direita apontavam para perfis anônimos e o site Renova Mídia, retuitado pelos filhos de Bolsonaro.

O segundo inquérito aberto pela Polícia Federal reforçou que Adélio Bispo, o autor da facada em Bolsonaro na cidade de Juiz de Fora, agiu sozinho. Nenhuma investigação associa o autor do crime com o PSOL.

O DCM procurou o publicitário Ênio Mainardi por email, mas não obteve resposta.Também procuramos Leonardo. O publicitário falou, em mensagem: “Pedro Zambarda, cheire o meu saco. Um efusivo abraço!”.

A revelação de Leonardo Oliveira no podcast “Ninguém se importa” vazado pro DCM ajuda a esclarecer que esses movimentos na rede pró-Bolsonaro nada tem de espontâneo. É o mesmo Leonardo que estava reunido com Ênio Mainardi nas eleições, em outubro de 2018, afirmando que “eu não sei mais o que é real e o que não é”.

Na medida em que os autores das farsas na internet são revelados, dá pra saber muito bem o que é verdadeiro e o que não é na rede.

Só acredita quem quiser.

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PS: O próprio Leonardo Oliveira, no Instagram, e seguidores dele (alguns fakes) atacaram a conta do Pedro Zambarda no Twitter depois que o jornalista o procurou para a entrevista. A atitude covarde fala por si.

Hiram com os irmãos e ídolos Carlos e Eduardo Bolsonaro