
Uma das perguntas mais antigas da humanidade — o que acontece quando morremos? — acaba de ganhar novas respostas científicas. Pesquisadores do Instituto de Ciências Matemáticas e Aplicações de Pequim entrevistaram 48 pessoas que passaram por experiências de quase morte (EQMs) e descreveram o que viram e sentiram nos instantes em que estiveram próximas do fim.
As descrições variaram de encontros com figuras religiosas a fenômenos luminosos e sensações de imersão em túneis.
As EQMs costumam ocorrer em situações de risco extremo, como parada cardíaca ou insuficiência respiratória. Estimativas apontam que entre 4% e 8% da população mundial já viveu algo semelhante. Apesar de sua frequência, a ciência ainda encontra dificuldade em estudar de forma sistemática essas experiências intensas e subjetivas. O novo estudo busca justamente criar uma base para compreendê-las sob um ponto de vista neurológico.
Entre os relatos, há histórias marcantes. Um participante disse ter “se tornado luz” e visto “Jesus à minha direita, barbudo, vestido, ali para me mostrar a saída”. Outro contou que “a força de Deus entrou pela minha frente”. Há também descrições de visões não religiosas, como túneis escuros e luzes iridescentes, além de representações mais científicas — como buracos negros e matrizes geométricas de múltiplas dimensões.

Segundo a autora principal do estudo, France Lerner, as visões são influenciadas pela bagagem cultural e pela atividade cerebral no momento da morte clínica. Ela afirmou ao jornal Daily Mail que a formação cultural de cada pessoa “fornece a base para as alucinações causadas por uma EQM”. Isso explicaria, por exemplo, por que alguns relataram ouvir “homens lendo a Torá”, enquanto outros visualizaram símbolos cristãos ou figuras angelicais.
Os pesquisadores identificaram quatro formatos espaciais distintos nas experiências, batizados de formas A, B, C e C5. Cada uma delas está ligada à maneira como o campo visual muda conforme o cérebro sofre falta de oxigênio. Nas formas iniciais, a visão se estreita, gerando o efeito de túnel; já nas mais avançadas, há sensação de envolvimento total em luz ou escuridão, como se o espaço se fechasse em 360 graus.
De acordo com Lerner, esses fenômenos não indicam a existência de uma alma separada do corpo, mas resultam de alterações físicas que afetam a percepção visual e sensorial. A pesquisa sugere que as EQMs surgem quando o cérebro perde coerência entre as informações visuais e corporais, criando a sensação de “deixar o corpo”. Para os cientistas, entender essas experiências é uma forma de compreender melhor os limites da consciência humana.