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Os senadores deveriam terminar sua farsa aclamando o autor: Eduardo Cunha. Por Kiko Nogueira

Eles

 

Está faltando o Cunha no Senado.

Ele foi o único conspirador citado nominalmente por Dilma em seu discurso no Senado. Até nisso o ex-vice continua decorativo. Cunha é o cara. Cunha merece uma ovação de seus agentes.

A fala de Dilma não provocou a explosão que muitos esperavam. Não porque lhe faltou contundência. Pelo contrário.

“São pretextos para viabilizar um golpe na Constituição. Um golpe que, se consumado, resultará na eleição indireta de um governo usurpador”, disse ela a certa altura.

O que mais esperavam? Não há carta na manga. Não há truque e não há milagre.

O resultado está combinado e o que temos é uma farsa especialmente degenerada exatamente por sua pretensa normalidade. Farsa esta que só resta expor para o mundo.

Todo o mundo se acostuma a tudo, mas nós, brasileiros, somos especiais. Assistimos a um atentado à democracia, ao vivo, comendo pipoca.

O repórter Pedro Zambarda fez um levantamento da folha corrida de 39 senadores favoráveis ao impeachment. É espantoso que gente como Aécio Neves, José Agripino, Aloysio Nunes Ferreira, Magno Malta, um certo Ataídes Oliveira — é espantoso que desqualificados se sintam à vontade para posar de “juízes”, vomitando escândalos de corrupção.

Esse teatro, porém, está manco. É notável, imperdoável a ausência — em escama e esqueleto, porque em espírito ele está lá — do paizinho Eduardo Cunha, sem o qual, como nas dedicatórias de discos e livros, nada disso seria possível.

Os senadores lhe devem essa. Naquela mesa está faltando ele. Não apenas por ter acolhido um pedido de impedimento que, a cada dia, para menos em pé. O grande momento de Janaína Paschoal, advogada de acusação, foi perguntar a uma testemunha se achava que a Venezuela era uma democracia.

A fraude no Senado é uma homenagem a ele, é um monumento a Cunha. Ele está por trás de cada inflexão canastrona dos atores, de cada arroto de moralismo. Ele é o designer do modelito revoltado on line da senadora Ana Amélia.

Ele chantageou, costurou e executou tudo. Entregou a cabeça de Dilma de bandeja agora para esses parlamentares fingirem que respeitam as instituições.

Se esses homens e mulheres fossem honestos, terminariam essa falcatrua aos gritos de “o autor, o autor”, como numa peça, para sua devida aclamação. Eu falei em honestidade?

Enquanto Dilma se expõe, Cunha vê o circo pegar fogo do lar — e a mulher dele tem o passaporte devolvido. Falta o Nero da República brasileira nessa esculhambação generalizada.

 

Kiko Nogueira

Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

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Kiko Nogueira

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