Os servidores precisam reagir aos crimes dos Bolsonaros. Por Moisés Mendes

Atualizado em 12 de dezembro de 2020 às 9:14
Clã Bolsonaro: Flávio, Jair, Eduardo e Carlos Foto: Reprodução

Originalmente publicado em BLOG DO MOISÉS MENDES 

Por Moisés Mendes

A resposta política ao aparelhamento da Abin pelos Bolsonaros é previsível e óbvia, com especulações sobre a abertura de sindicâncias e até sobre a possibilidade de impeachment do sujeito.

Mas essa não pode ser a única nem a principal reação, até porque o impeachment é a mais gasta de todas as hipóteses levantadas desde a posse do pai do chefe da quadrilha das rachadinas.

A mais decidida resposta aos arapongas deve partir dos servidores, dos quadros do Estado ofendidos pela ação da família e de seus prepostos.

Os servidores dos órgãos envolvidos têm de dar repostas fortes, mas não só em notinhas, sobre o uso da arapongagem para fornecer dados que facilitem a vida de Flávio Bolsonaro como criminoso.

São duas as questões mais urgentes, mais até do que a interferência do Ministério Público e das instituições interessadas em investigar os crimes denunciados pela revista Época.

Essa é a primeira questão. O uso da Abin só foi possível com a colaboração de gente de dentro de órgão, e não só de comandos. Quem colaborou?

Quem fez o serviço para os advogados de Bolsonaro dentro da Abin? Quem permitiu o acesso a informações que acabam denunciando, com nomes, os funcionários da Receita visados pela Abin?

A segunda questão é esta. A Abin usa o argumento de que buscou informações capazes de ajudar na anulação de inquéritos e processos, a partir da suspeita de que há violação de informações na Receita.

Interessa aos quadros da própria Receita saber qual o fundamento da acusação, que desqualifica servidores para beneficiar o chefe da quadrilha.

Não basta emitir notas, em nome dos quadros da Abin e da Receita, para dizer que condenam práticas em desacordo com os compromissos republicanos dos dois órgãos.

Os servidores devem começar a reagir com mais efetividade ao aparelhamento do Estado. Eles estão dentro da baleia e precisam, por obrigação, contar o que sabem e tomar providências para muito além dos manifestos com frases de indignação.

Há muito tempo Bolsonaro aparelha as instituições, e a reação tem sido mínima. Casos de exceção são poucos, e os mais frequentes partem do Ibama, onde fiscais denunciam o desmantelamento da estrutura de fiscalização na Amazônia.

Na educação, na saúde, na Polícia Federal (Sergio Moro deve saber mais do que falou até agora), na cultura, no Itamaraty, no meio ambiente, em todos os setores aparelhados pela família Bolsonaro há servidores usados ou desrespeitados.

Todos os que convivem com os operadores das tarefas determinadas pelos chefes a serviço de Bolsonaro sabem quem faz o quê e quem é vilipendiado por essas ações.

Por isso a resposta à ação da Abin para proteger os Bolsonaros somente será consequente se for liderada pelos servidores, sem o receio de acabar expondo os colaboracionistas.

Vale para os quadros da Abin e para todas as áreas onde a maioria dos servidores (é o que se espera) não concorda com o trabalho sujo de quem protege grileiros, incendiários e desmatadores da Amazônia, perseguidores de professores, jagunços e chefe de quadrilha de milicianos.