Os sinais de que os EUA podem entrar no conflito entre Israel e Irã

Atualizado em 18 de junho de 2025 às 11:03
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Foto: Reprodução

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu fortes sinais de que o país pode entrar diretamente no conflito entre Israel e Irã. A movimentação começou após ele deixar, antes do previsto, a cúpula do G7 no Canadá para retornar a Washington. Já na capital americana, na terça-feira (17), Trump se reuniu com membros do Conselho de Segurança Nacional e mudou o tom do discurso da Casa Branca.

Desde a última sexta-feira (13), Israel e Irã estão em confronto direto. O Exército israelense iniciou uma operação para atingir alvos nucleares iranianos, e Teerã retaliou com mísseis lançados contra cidades como Tel Aviv, Haifa e Jerusalém. Mais de 240 pessoas morreram e milhares ficaram feridas, segundo balanços oficiais dos dois países.

Apesar de os Estados Unidos terem negado participação nos primeiros ataques israelenses, a mudança no comportamento do governo americano nas últimas horas foi evidente. Trump, em mensagens públicas, indicou possível envolvimento militar direto.

O presidente americano ainda afirmou que já “tinha o controle do céu do Irã”, sugerindo superioridade aérea. Ele também disse que não mataria o aiatolá Ali Khamenei “por enquanto”, mas advertiu que sua paciência “estava chegando ao fim”.

Em uma publicação nas redes sociais, ele escreveu: “Sabemos exatamente onde o chamado ‘Líder Supremo’ está escondido. Ele é um alvo fácil, mas está seguro por enquanto – não vamos eliminá-lo (matar!), pelo menos por ora”. Na sequência, acrescentou: “RENDA-SE INCONDICIONALMENTE!”.

O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, por sua vez, rejeitou o ultimato feito por Trump e afirmou que a nação iraniana “não é de se render”.

“Aqueles com sabedoria que conhecem o Irã, seu povo e sua história nunca falam com esta nação na linguagem da ameaça, porque a nação iraniana não se renderá”, disse Khamenei em um discurso televisionado nesta quarta-feira (18). Ele também reforçou suas críticas a Trump nas redes sociais.

Desde fevereiro, Trump retomou a política de “pressão máxima” contra o Irã. A estratégia busca forçar o país a negociar um novo acordo nuclear. Na ocasião, ele declarou que, se as negociações fracassassem, poderia recorrer a ações militares com o apoio de Israel.

Agora, além do discurso, os Estados Unidos aumentaram o envio de caças ao Oriente Médio e reforçaram sua presença militar na região. Segundo a agência Reuters, aeronaves americanas partiram da Europa em direção à zona de conflito, numa movimentação que especialistas consideram um sinal claro de preparação para a guerra.

Especialistas veem indícios concretos de entrada dos EUA na guerra

Segundo Maurício Santoro, doutor em Ciência Política e membro do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marinha do Brasil, a escala das movimentações militares indica que os Estados Unidos não estão apenas fazendo ameaças.

“Pela escala dos deslocamentos, pelo tipo de armamento que os Estados Unidos estão deslocando para o Oriente Médio, são todos os sinais de uma preparação para guerra”, disse.

Santoro afirma que a entrada dos EUA aumentaria a escala do conflito. Os americanos possuem armamentos de alta precisão, como bombas projetadas para destruir bunkers subterrâneos — como os usados pelo Irã em seu programa nuclear.

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, na cidade de Jerusalém, em 2017. Foto: Ronen Zvulun

Por outro lado, os impactos políticos também pesam. A professora Priscila Caneparo destaca que um envolvimento direto dos EUA contraria promessas feitas por Trump durante sua campanha presidencial.

“A sociedade civil quer um afastamento de problemas justamente correlacionados à guerra, até porque o Trump falou que não iria gastar dinheiro com isso, mas que se preocuparia com problemas internos dos Estados Unidos”, explica.

Ela acrescenta que uma decisão de entrar na guerra pode gerar forte desgaste entre os eleitores. “Acho que vai pegar muito mal para ele, em uma perspectiva de não corresponder ao que seus eleitores e a sua base eleitoral estão justamente esperando dele”, afirmou.

Conflito pode afetar o mundo inteiro

Caso os EUA entrem oficialmente na guerra, os impactos seriam sentidos em escala global. O Irã já ameaçou fechar o Estreito de Ormuz — uma das rotas marítimas mais importantes do mundo, responsável por grande parte da exportação de petróleo do Oriente Médio.

“Seria bem complicado para a navegação comercial. Isso faria com que o preço do petróleo disparasse globalmente. Provocaria um aumento expressivo”, afirmou Santoro.

Além disso, a guerra criaria pressões internacionais sobre aliados do Irã, como China e Rússia. “O impacto global não necessariamente será militar, mas muito mais de pressão sobre o que está acontecendo ali naquela região”, avaliou Caneparo.

Os analistas acreditam que, num primeiro momento, os efeitos diretos da guerra seriam concentrados no Oriente Médio. No entanto, o maior risco é uma escalada descontrolada, com aumento das mortes de civis e envolvimento de outros países.

“Com certeza seria um conflito muito sangrento. Teria bastante baixas civis, tamanha a capacidade de destruição dos Estados Unidos — vide o que aconteceu na guerra do Afeganistão e, principalmente, na guerra do Iraque”, conclui a professora.