Os tabloides ingleses desviaram os olhos do príncipe pelado

Atualizado em 22 de agosto de 2012 às 19:27
Harry, na foto ao lado da duquesa de Cambridge, representou a monarquia no encerramento das Olimpíadas

 

Os tablóides londrinos estão mortos. Pelo menos na forma como se tornaram mundialmente conhecidos – petulantes, agressivos, indomáveis, ao mesmo tempo extremamente criativos e sordidamente destrutivos.

A prova disso está na cobertura do escândalo da nudez do príncipe Harry: nenhum deles deu qualquer uma das duas fotos publicadas pelo site americano de fofocas TMZ, que ganhou notoriedade internacional ao dar o furo da morte de Michael Jackson. Em ambas, Harry, de 27 anos, aparece sem roupa ao lado de uma mulher também nua num quarto de hotel de Las Vegas, a chamada Sin City, ou Cidade do Pecado.

É amplamente conhecida a frase segundo a qual o que você faz em Las Vegas, você deixa em Las Vegas. Mas as fotos não permitirão isso a Harry. Aparentemente, ele participava com amigos e amigas de uma competição de sinuca em que os jogadores iam tirando as roupas de acordo com os resultados.

Em outros tempos, os tabloides teriam publicado as duas fotos e as que conseguissem comprar adicionalmente. Alguns anos atrás, numa festa à fantasia, o mesmo Harry apareceu com um uniforme nazista. Um jornal rasgou a foto na primeira página com a seguinte manchete: “Harry The Nazi”.

Agora, os tabloides se comportaram. O que criou uma situação bizarra: as fotos estão mundialmente expostas em inumeráveis sites. Mas não foram impressas na Inglaterra.

Um comentarista de mídia fez um paralelo com o comportamento dos jornais britânicos nos anos 1930: nenhum deles falava do caso do rei Eduardo com Wallis Simpson, um assunto abordado copiosamente pela imprensa em todo o mundo. (Eduardo acabaria renunciando ao trono para casar com Wallis.)

O que aconteceu com os tabloides? Bem, para encurtar, aconteceu o Inquérito Leveson, como é chamado o processo de investigação sobre a cultura, as práticas e a ética da mídia britânica. (O nome deriva do juiz que comanda os trabalhos, Brian Leveson.) O inquérito veio logo depois do escândalo das escutas telefônicas do falecido jornal News of the World.

O episódio do príncipe foi o primeiro teste para os tabloides. Eles claramente piscaram. Antes, assustavam e intimidavam. Agora, estão assustados e intimidados.

Não pesava contra eles nem o risco de acusações de invasão de publicidade. O episódio é de interesse público: Harry é o terceiro na lista de sucessão, depois de seu pai Charles e de seu irmão William. Na cerimônia de encerramento das Olimpíadas, ele representou sua avó, a rainha Elizabeth.

O comportamento de Harry não surpreende. Ele já tinha fama de festeiro, e agiu como quase todo jovem solteiro faria em circunstâncias parecidas. A surpresa mesmo foi a reação tímida, medrosa, acoelhada dos tabloides – um fato inédito em sua história. Os lobos viraram ovelhas.