No momento em que este texto é escrito, já é de conhecimento público que houve cinco crianças mortas em uma escola estadual de Suzano, cidade pobre na região metropolitana.
Um funcionária também morreu. Os atiradores teriam se matado.
O que chama a atenção neste caso é que, antes de se buscarem as razões dessa tragédia, já são divulgados com intensidade pelo WhatsApp vídeos com pessoas mortas e crianças gritando desesperadas.
Também já é possível ver que os dois atiradores se suicidaram.
Um deles tem uma lenço que seria o de uma caveira, veste roupa preta.
O outro não tem lenço.
O que intriga é imaginar o que leva uma pessoa a se preocupar em tirar essas fotos, fazer essas gravações e postar na rede antes mesmo que a polícia chegasse.
Pode ser um aluno ou um funcionário.
Alguém que quis chamar a atenção, ainda que anonimamente, já que dificilmente esta pessoa irá se identificar.
A pergunta que fica: até onde vai a doença que ameaça nossa existência como sociedade civilizada?
A preocupação em abastecer a rede social é muito maior do que o cuidado com vidas.
É certamente uma patologia, a mesma que acomete o presidente do Brasil, viciado também, ele próprio, em se manter conectado à rede social.
Para estes, incluindo o presidente, não importam valores, mas cliques, a vontade de se fazer presente no Twitter, no Facebook ou no WhatsApp.
Não vou aqui nem falar sobre o empoderamento das pessoas com fetiche por armas de fogo.
Sobre a cultura da violência.
Esta é outra patologia, irmã siamesa daquela.
Ver a tragédia de Suzano deveria provocar em todos nós lágrimas. Apenas lágrimas. E depois buscar saídas para evitar tragédias como esta.
Mas somos impelidos a contar a todos, via rede social, o lado mórbido da existência humana. É como se estivéssemos celebrando o horror.
É o que vem à mente quando se vê o vídeo que mostra as crianças correndo entre corpos ensangüentados.
Quem estava ali gravando com o celular sabia que as imagens causariam impacto.
Talvez nem tenha consciência de que ele está, na verdade, comunicando que todos nós falhamos como seres humanos.
Falhamos feio.
.x.x.x.
PS: Moradores de Suzano reclamam do uso da palavra pobre para definir Suzano e lembram que a cidade tem um IDH acima da média.
Não faz de Suzano uma cidade rica, mas a coloca em situação melhor que a de seus vizinhos.
Por contar com muitas indústrias, Suzano tem também o PIB per capta mais elevado do Alto Tietê.
Para quem se sentiu ofendido com a palavra pobre, pedimos desculpas.