Os vampiros da pandemia continuam escapando, dois anos depois da criação da CPI. Por Moisés Mendes

Atualizado em 18 de abril de 2023 às 0:04
Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Renan Calheiros (MDB-AL) e Omar Aziz (PSD-AM) no plenário da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid no Senado. Foto: Reprodução

Publicado originalmente no “Blog do Moisés Mendes”

Veja esses nomes abaixo e tente alguma conexão com o que essas figuras fizeram ou disseram em passado recente, quando tiveram exposição pública:

Pedro Benedito Batista Júnior, Luciano Dias Azevedo, Francisco Emerson Maximiano, Eduardo Parrillo, Otávio Fakhoury e Tércio Arnaud Tomaz.

Eles fazem parte de uma lista de 79 nomes enviados ao Ministério Público, em outubro de 2021, pela CPI do Genocídio, com pedidos de indiciamento.

Ninguém se lembra deles. Só alguns conhecidos, alguns políticos e os próprios parceiros de delitos que a CPI do Senado definiu como crimes graves cometidos durante a pandemia.

Há dois anos, num dia 14 de abril, o Supremo determinou que a CPI fosse instalada. No dia 27 de abril aconteceu a instalação solene.

E deu-se então o que se sabe. A comissão interrompeu negociatas com cloroquina e vacinas, expôs a política de Bolsonaro de matança de gente e desmontou quadrilhas.

Foi muito, mas não foi o insuficiente para que as investigações resultassem em indiciamento, julgamento, condenação e reparação. Não há reparação alguma.

Parte da população acreditou que a CPI estava semeando Justiça em meio ao genocídio. Se fossem mudas de plantas, alguns dos inquéritos instaurados depois da CPI ou engavetados teriam, se as gavetas estivessem abertas, dois metros de altura.

Bolsonaro vacina
Bolsonaro fez campanha contra a vacinação

Semearam expectativas frustradas. Dos 79 nomes, 13 tinham foro privilegiado, entre os quais Bolsonaro e seus ministros Braga Netto, Eduardo Pazuello, Onyx Lorenzoni, Marcelo Queiroga, Ernesto Araujo e Wagner do Rosário.

A Procuradoria-Geral da República decidiu que eles não deveriam ser investigados, porque não viu crime algum.

O pedido de inquérito com nove acusações contra Bolsonaro, que formam o conjunto de atos criminosos, começando pela ação deliberada de disseminar epidemia e morte, foi arquivado pelo ministro Dias Toffoli este ano. A PGR pediu e o ministro acatou.

A partir da semana que vem, em julgamento que deve ocorrer até 8 de maio, o pleno do STF dirá se a decisão de Toffoli será mantida ou não.

Bolsonaro consta do relatório da CPI por infração de medida sanitária preventiva (não usar máscara), charlatanismo, incitação ao crime, falsificação de documento particular, emprego irregular de verbas públicas, prevaricação e crimes contra a humanidade, nas modalidades extermínio, perseguição e outros atos considerados desumanos, além de crimes de responsabilidade.

É o que, no conjunto, configura o que alguns não querem chamar de genocídio. Eles, os filhos Flavio, Eduardo e Carlos, as deputadas Bia Kicis e Carla Zambelli, todos estão no relatório da CPI.

Eduardo Bolsonaro e Carla Zambelli. Foto: Reprodução

Vampiros que vendiam vacinas inexistentes, donos e médicos da clínica Prevent, coronéis, propagandistas da cloroquina, empresários, o véio da Havan e gente de quem ninguém se lembra estão na lista da CPI.

E tudo começou há exatos dois anos, com estardalhaço, para chegar agora a uma nesga de esperança com a possibilidade de aceitação do processo contra Bolsonaro.

E os outros? Os outros sem foro apostam nos efeitos que o tempo produz nesses casos. Daqui a pouco, o ímpeto por reparação terá passado.

O jornalismo abandonou a pauta e ninguém mais fala dos pedidos de indiciamento. Os políticos também não têm interesse em retomar a conversa abatumada das investigações.

Se o Supremo deliberar pela reabertura do caso de Bolsonaro, a decisão poderá constranger o Ministério Público a pelo menos dizer o que está fazendo.

O trabalho em silêncio do MP até agora só beneficia os criminosos. Vampiros brasileiros têm paciência e não gostam de muito barulho.

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