Os vazamentos do depoimento de Marcelo Odebrecht confirmam: sempre sobra para Dilma. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 2 de março de 2017 às 15:45
Não a deixam em paz
Não a deixam em paz

E sempre sobra para Dilma.

O depoimento supostamente sigiloso de Marcelo Odebrecht nesta quarta sobre doações de campanha foi mais uma oportunidade para a mídia de massacrar Dilma — e de aliviar para Temer.

Os vazadores escolheram caprichosamente que trechos do depoimento passar e para quem.

E lá veio uma saraivada de acusações contra Dilma.

O fato é que até que a delação real venha a público, tudo que você ler e ouvir será fruto de vazamentos altamente seletivos.

A melhor maneira de você ficar desinformado será lendo e vendo o que os veículos das grandes empresas jornalísticas estão dando sobre o assunto.

No Twitter, o colunista Ricardo Noblat, defensor obstinado dos interesses da Globo e da plutocracia, sintetizou o que estou dizendo. “Odebrecht implica Dilma e poupa Temer”, escreveu ele.

Dilma está habituada aos vazamentos seletivos. Como esquecer a capa da Veja na véspera da eleição de 2014 na qual estava dito que Dilma “sabia de tudo” sobre o “Petrolão”?

Era um vazamento da delação do doleiro Youssef. Quando a real delação de Youssef foi publicada, viu-se que era mentira. Ele não dissera o que a Veja disse que ele dissera. Mas aí, quando se soube a verdade, o estrago já estava feito.

Dilma já foi derrubada, espezinhada, injustiçada suficientemente. Dados os bastidores do golpe, o país deveria se desculpar de joelhos diante de Dilma.

Mas não. A mídia fica à espreita para bater nela o tempo todo.

Chegam a ser patéticas as artimanhas para culpá-la e livrar Temer de problemas.

Uma das versões vazadas ontem admitia que Temer recebeu, sim, Marcelo Odebrecht num jantar secreto para arrancar dele 10 milhões de reais. Mas, na hora de tratar de dinheiro, de acordo com essa versão infame, Temer não estava mais na mesa, como se isso o isentasse de tudo.

É preciso ter em muito baixa conta a inteligência dos brasileiros para tentar passar uma lorota dessas.

Apenas para lembrar, na delação de um diretor da Odebrechet em que o jantar primeiro apareceu, foi dito que Temer se envolveu pessoalmente no pedido milionário a Marcelo Odebrecht.

Mas o foco da mídia acabou em Dilma. Pobre Dilma. Em vez de desculpas, ela recebe mais chicotadas, e mais chicotadas, num suplício sem fim.