Os vendedores de cloroquina derrubaram Nelson Teich. Por Moisés Mendes

Atualizado em 15 de maio de 2020 às 14:52
Nelson Teich e as covas em tempos de coronavírus. Foto: Reprodução/Tijolaço

Publicado originalmente no blog do autor

Caiu o sujeito que não entrou na dança maluca de Bolsonaro com a peste e no seu interesse criminoso pela venda em massa da cloroquina.

Nelson Teich sai maior do que entrou, talvez como consolo para os que esperavam sua adesão total aos desatinos e aos delitos de Bolsonaro.

Erramos todos. Teich não aderiu ao discurso do fim do isolamento. Não ratificou a propaganda da cloroquina, não conspirou contra a ciência e não atacou governadores e prefeitos.

Nelson Teich era apenas mais um cara no lugar errado na hora errada. Sem nenhuma noção do que possa ser a saúde pública, com total desconhecimento de suportes de urgência numa pandemia, sem a cultura dos servidores da área.

Nelson Teich foi o coitado que Bolsonaro achou que iria manobrar. Não conseguiu. Está claro que Teich foi incompetente como gestor. Mas também fica evidente que se negou a fazer o serviço sujo.

Há um certa dignidade no seu gesto de ir embora. Se tivesse adotado a tática dos outros ministros de copa e cozinha, poderia ficar para sempre como amigo de Bolsonaro e dos garotos.

Se tivesse se submetido às loucuras de Bolsonaro, Teich estaria lá, apenas como mandalete, mas forte como estão Weintraub, Damares, Salles, Araujo e Guedes.

Teich cai porque não teve estofo para ser um bolsonarista legítimo. Era um depressivo em meio a milicianos alucinados.

Sergio Moro tinha a índole para ser, mas não teve tempo de virar bolsonarista autêntico. Teich não quis ser um deles. Deve dizer logo o que sabe sobre o negócio da cloroquina.

É agora que vem o jogo pesado de Bolsonaro, assim definido por ele ontem em videoconferência com empresários? É a hora da guerra sem soldados vacilões que não pegam suas armas?

Bolsonaro pode finalmente vender a cloroquina e tentar ir pra cima dos governadores no grito, com um general no Ministério. Mas pode também surpreender para tentar se salvar.

Bolsonaro teria coragem de apresentar um servidor da saúde como ministro e complicar tudo de novo? Mas quem toparia? Ou Osmar Terra vem aí?