Os vizinhos de Cunha vão cassar seu mandato na Barra antes da Câmara. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 23 de outubro de 2015 às 15:26
A casa de Cunha, bem guardada pela polícia
A casa de Cunha, bem guardada pela polícia, graças a Deus

 

Eduardo Cunha mantém o país refém e as panelas silenciam de norte a sul — menos numa pequena e rica aldeia gaulesa na zona oeste do Rio de Janeiro.

Não que alguém esteja batendo panela porque a cozinha fica longe, mas os vizinhos de Cunha no condomínio Park Palace, na Barra da Tijuca, querem seu impeachment. Vivem com a incômoda sensação de dividir um terreno com um homem cujo prontuário não para de crescer nunca.

E ele ainda tem escolta policial. Prerrogativa do cargo, diz Cunha.

Um senhor reclamou no Estadão: “E ainda fica um carro da polícia na porta desse sujeito. Na rua a gente não tem segurança. Eu pago meus impostos, não estou em dívida com minhas obrigações”, afirmou.

“Falar que é evangélico, cristão e fazer o que ele faz? É um absurdo. Ele tem contas na Suíça, passaporte diplomático e diz que não é dele? Então passa o dinheiro para a minha conta e dos brasileiros que não aguentam mais isso. Gastou uma fortuna de cartão de crédito. É uma vergonha. Era para ter 200 mil pessoas aqui protestando”.

Sim, era. Onde estão os revoltados online? “Aqui tem ladrão dentro e fora dos condomínios”, queixou-se uma mulher.

O banco suíço Julius Bär, braço do Merryl Lynch, acreditou que Cunha fosse do ramo dos imóveis. De acordo com uma analista num relatório de 2007, “ele ganhou aproximadamente US$ 2 milhões em investimentos imobiliários, investindo numa área que se tornou badalada no Rio, a Barra da Tijuca.” Um imóvel pode valer, no condo, 15 milhões de reais.

Jesus sabe das negociatas que aconteceram naquele casarão. Os moradores agora estão lembrando da quantidade de vezes em que cumprimentaram o cara com implante no cabelo, encurvado, que os saudava numa boa, talvez saindo para uma caminhada tranquila. A patroa, Cláudia Cruz, volta e meia aparecia com sua raquete de tênis, descendo do Porsche, suada depois de alguns sets com as amigas.

O delator Fernando Soares, o Baiano, tido como operador das propinas da Petrobras, contou que fez várias reuniões no local.

Assim descreveu a residência, segundo depoimento na Lava Jato: “É uma casa de dois andares, sendo uma casa aparentemente espaçosa. Na casa de Eduardo Cunha, ao adentrar, o escritório onde se reunia com ele ficava na primeira porta do lado esquerdo, razão pela qual não teve muito contato com o restante da residência.”

A não ser pelos deputados, ninguém se sente à vontade ao lado de um sujeito com uma ficha suja daquela desenvoltura. Os condôminos vão cassar seu mandato antes da Câmara.