Ousado até o limite, o técnico da Holanda Louis van Gaal é o anti-Felipão

Atualizado em 7 de julho de 2014 às 10:19
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O técnico da Holanda foi atrevido e corajoso no momento certo. Louis van Gaal, de certa forma, é um anti-Felipão.

Vamos lembrar do número de jogadores convocados por ele para a Holanda. Foram 20 holandeses para seu time contra 23 jogadores brasileiros de Felipão. Com essa equipe mais enxuta, Van Gaal  fez substituições mais ousadas do que o técnico brasileiro, tirando Robin van Persie em jogos que o prejudicariam e variando a posição de Arjen Robben, um meio-campo que normalmente joga como ponta esquerda, mas também correu pela direita.

O jogo da Holanda contra a Costa Rica nas quartas de final foi difícil. Atacantes esbarraram no goleiro da Costa Rica, Keylor Navas, que estava com as traves e com as mãos abençoadas. Fez defesas impressionantes. Navas tem um costume peculiar, porque treina com bolas de tênis em seu clube, o Levante da Espanha. É um goleiro preparado para fazer defesas perigosas de bolas de Van Persie ou de Robben.

A partida se arrastou no zero a zero nos dois tempos de 45 minutos e nas duas prorrogações de 15 minutos. Nos pênaltis, a Holanda tinha a possibilidade real de perder o jogo. Se Robben, Wesley Sneijder e Van Persie podiam marcar gols, a Costa Rica poderia surpreender com Bryan Ruiz, Christian Bolaños e Celso Borges.

Louis van Gaal já tinha acertado com sua equipe técnica e tomou a decisão difícil para aquele momento: tirou o goleiro Jasper Cillessen. Transtornado, o atleta saiu visivelmente contrariado do campo porque estava tenso junto com toda a seleção holandesa. Colocou no lugar dele Tim Krul, que joga no time inglês Newcastle United. O reserva é o único goleiro que conquistou o prêmio de melhor jogador do Campeonato Inglês em novembro de 2013. Ele tem experiência em pênaltis, ao contrário de Cillessen, um defensor de campo.

Van Gaal já tinha acertado a decisão com Krul antes, em uma conversa secreta, sem conhecimento dos demais. Além de sua experiência, o terceiro goleiro do time holandês é cinco centímetros mais alto do que o titular Jasper Cillessen.

O jogo inteiro foi puxado para a Holanda. Se o ataque estava cansado por não conseguir marcar gol, a defesa sofreu nos contra-ataques de Bryan Ruiz. Numa disputa de pênaltis, manter a calma é essencial. Ter uma defesa eficiente é uma opção mais segura.

Van Gaal não teve dúvida e fez a substituição no momento em que deveria fazer.

Krul impediu o gol de Bryan Ruiz, o artilheiro costa-riquenho favorito, e defendeu a última bola disparada por Umaña. A defesa garantiu a classificação da Holanda para semi-final da Copa do Mundo do Brasil e o fim da trajetória histórica da Costa Rica em mundiais.

A única característica em comum entre Felipão e Van Gaal é sua crença em supertições. Luiz Felipe Scolari está usando um casaco azul da sorte em jogos difíceis. O técnico holandês é mais discreto e utiliza uma pulseira laranja nas disputas mais complicadas.

Mas, tirando isso, são técnicos completamente diferentes. O técnico brasileiro insiste em Fred, Hulk, Oscar e em jogadores de confiança, sem aproveitar direito seus reservas, em um time com mais jogadores. Felipão não pensa com um pouco de frieza e espera o time apresentar problemas para reagir, o que pode nos ameaçar nestes jogos finais da Copa do Mundo, inclusive contra a Alemanha.

Van Gaal, que atua no Manchester United, planeja antes de agir, pensa taticamente e tenta fazer seus jogadores rodarem antes de cobrá-los em excesso. Quando Van Persie ganhou fama com seu gol de peixinho contra a Espanha, em uma goleada de 5×1, o técnico holandês não hesitou em trocar o craque nos outros jogos. Felipão cobrou Neymar até o último segundo, por acreditar em seu potencial e por sua amizade, para vê-lo fraturar uma vértebra de sua coluna no jogo contra a Colômbia.

Louis van Gaal precisou pensar em defesas no final do jogo da Costa Rica. Com goleiros como Guillermo Ochoa, do México, e Julio César, do Brasil, é fundamental pensar nos goleiros nesta Copa do Mundo. O técnico holandês foi decisivo e estratégico para a vitória. Coragem é necessária para escolher as opções corretas em momentos determinantes.