Pabllo Vittar, a indústria cultural e seus miquinhos amestrados. Por Marcius Cortez

Atualizado em 1 de fevereiro de 2018 às 16:59

POR MARCIUS CORTEZ

Como pode em dias nada exemplares como esses que estamos vivendo a juventude brasileira ser movida por um coração cigano que se vangloria de ser vadia, todo dia vadia, que se deslumbra porque sua boca está quente para beijar, que idolatra a loucura e que canta o bicho pegando embaixo dos lençóis?

Ora, meus amigos, pode sim e o nome disso é “Paraíso”, lançado no dia 28 de janeiro de 2018 com um estardalhaço midiático nunca d’antes visto em terra brasilis.

A estrela propulsora desse cometa chama-se Phabullo Rodrigues da Silva. Maranhense, nasceu em São Luis no dia 1º de novembro de 1994. Menino pobre, criou-se em Santa Inês e Caxias, interior do Estado. Sua infância e adolescência coincidiram com os primeiros anos do governo Lula, quando o país reduziu a pobreza e a desigualdade social.

Logo cedo, começou a se apresentar nas festinhas da escola, em casa de amigos, nos barzinhos, no carnaval e nos festejos juninos. Em 2014 triscou o começo da fama quando barbarizou num programa de televisão cantando “I have nothing”, da cantora norte-americana Whitney Houston.

Daí em diante seu sucesso aconteceu na velocidade de um tiro. A arte da drag queen Pabllo Vittar prima pelo uso de matrizes diferentes.

Em termos melódicos, mistura samba, funk, tecnomelody, MPB, pop, forró, hip-hop, trap e EDM. Parece um vodu, vampiriza, debocha, mas especialmente seduz a massa e a convida para o amor. Passa pela dor de cotovelo, por puro deboche, pelo kitsch, não teme a provocação gratuita nem o lugar comum.

Sua qualidade musical é pobre, raia ao “bate-estaca”. Sua cenografia capenga, cheia de citações e de forte influência de videoclipes manjados. No entanto, sua performance enche os olhos. Sua voz de “soprano nasal”, como disse certo crítico, atinge o timbre necessário para o impacto e, inegavelmente, da sua dança emanam demônios.

Portanto, o ”Paraíso” de Pabllito Vittar e Lucas Locco vai te pegar. Em um país reprimido sexualmente como o Brasil, isso venderá que nem pãozinho quente. Novos tempos? Não me façam rir. “Paraíso”, como produto de comunicação de massa, é mais velho do que as geleiras do Himalaia.

Ele flerta com o proibido, com o escandaloso e os consumidores, essa manada de miquinhos amestrados, adoram parecer que são “pra frente”, que são livres e bacanas.

Planejado nos mínimos detalhes, a indústria cultural investe na assimilação do “sexualmente avançado”, do “liberal”, da contracultura e se alguém cismar de censurar, aí então é que a onça enche a cara de Coca-Cola.

Para quem não sabe, Pabllo Vittar teve a sua imagem reproduzida nas latinhas do refrigerante. Ora, tudo a ver. A Coca inventou o Papai Noel e agora nos enfia o veneno da drag queen Pabllo Vittar goela abaixo.

Esperto dar o nome de “Paraíso” para o lançamento. Viver no Brasil vai ficar muito difícil. É triste, fodido da vida, só restará ao povão o consolo de balançar o esqueleto e de pegar o mel do prazer embaixo dos lençóis.