Pacheco não é um imbecil, apenas se esforça para parecer. Por Luis Felipe Miguel

Atualizado em 16 de julho de 2021 às 19:54

Publicado originalmente no Facebook do autor:
Dizem que um talento do político é falar sem dizer nada. Mas certamente este não pode ser o único talento – e deve ser usado com certa moderação.
Na entrevista que foi postada há pouco no site da Folha, Rodrigo Pacheco abusa do direito de ser evasivo. Deve se achar uma raposa, mas ficou parecendo apenas um poltrão.
Até porque grande parte do seu esforço para dizer nada é para evitar se posicionar sobre as ameaças das Forças Armadas e de Bolsonaro contra o Brasil.
Sobre a nota das Forças Armadas contra o Senado, ele diz que não a considerou ameaçadora e que encerrou o assunto.
Indagado sobre a entrevista do comandante da Aeronáutica, que teve o intuito de impedir qualquer interpretação de que a nota não fosse ameaçadora, respondeu: “É fundamental que as pessoas que ocupam determinadas posições sejam o mais claras possível naquilo que desejam dizer. E considero que o comandante da Aeronáutica tem esse papel de ser claro naquilo que diz. Não recebi como ameaça. Considero que aquilo ocorreu num momento de uma semana recheada de desentendimentos”.
E por aí vai. Perguntado se não acha que tem militares demais no governo, tece longos comentários meio aleatórios para concluir: “A grande reflexão que fica é se os militares da ativa devem participar de governos ou não”.
Logo emenda: “E esta definição deve se dar ouvindo-se as Forças Armadas. Até porque tenho absoluta certeza, honradas como são, éticas como são, não querem ter esse contato permanente com a política”.
Os repórteres deveriam ter perguntado às Forças Armadas de que país ele estava se referindo, que mereciam os adjetivos “éticas” e “honradas”.
Depois explica que, ao dizer que quem é autoritário é inimigo da nação, não se referiu a Bolsonaro: “Gostaria de tratar esse assunto no campo da ideia, sem fulanizar”.
Uma tirada primária. Diante de uma ameaça concreta, mover-se para “o campo da ideia” é simplesmente não enfrentar a ameaça.
Confrontado a falas do barriga-rota prometendo, por exemplo, impedir a realização das eleições, Pacheco diz sempre que foram “declarações infelizes”.
Mantém a posição de que a CPI não devia ter sido instalada (“eu considerava que a CPI valorizaria as divergências e não os pontos de unidade”), mas agora o elogia o trabalho que ela faz, esperando “que ela possa, ao final, propor soluções e apurar responsabilidades”.
Diz que “reconheço os erros do governo [no enfrentamento da pandemia]. Porém reconheço acertos também”. Quando menciona diretamente Bolsonaro em relação ao tema, é para “louvar” sua participação no comitê de enfrentamento da Covid.
Ele nega estar pensando na candidatura à presidência, mas não deixa de enunciar sua plataforma – uma coleção de platitudes, por supuesto: “um Brasil mais justo”, “um Estado presente na vida das pessoas naquilo que realmente precisa estar”, ” uma reforma tributária que seja realmente uma reforma tributária”, “investimento maciço em educação”.
Vai sair do DEM para entrar no PSD, a fim de viabilizar a candidatura? “Considero que essa questão de mudança de partido não deve ser tratada agora. Estou feliz no meu partido, mas igualmente tenho grande apreço e fico lisonjeado com o convite feito pelo PSD”.
Conheço pouco Pacheco – só vim a saber dele quando se elegeu presidente do Senado. Imagino que não seja um imbecil, apenas se esforça para parecer. Mas acho significativo que ele esteja sendo citado entre os possíveis nomes da “terceira via”, por dois motivos.
Primeiro, porque expõe bem o que é muito dessa “terceira via”: nem carne nem peixe, nem bolsonarismo nem oposição, nem autoritarismo nem democracia.
Depois, porque a entrevista mostra um candidato de potencial zero, nenhuma capacidade de liderança e performance verdadeiramente eletrizzzz… Lançar o nome de Pacheco é só um factoide de Kassab, para valorizar o passe de seu partido.