José Padilha escancarou a canalhice empenhada na série “O Mecanismo”, da Netflix, ao tentar justificar sua falsificação histórica.
Em entrevista à Folha, agrediu Dilma de maneira absolutamente destemperada, como um delinquente pego em flagrante.
Dilma apontou, num artigo, que Padilha distorceu fatos e cometeu “mais do que desonestidade intelectual”.
Ela lembrou que as frases de Jucá sobre “estancar a sangria” e “um grande acordo nacional” são atribuídas ao personagem que encarna Lula, o Higino.
Padilha saiu-se com a falácia de que fez uma “obra-comentário” (!?!).
“Na abertura de cada capítulo está escrito que os fatos estão dramatizados, se a Dilma soubesse ler, não estaríamos com esse problema”, afirma.
Por que o golpe baixo?
Porque Padilha não tem defesa.
Se uma ficção se declara “baseada em fatos reais”, ela deve um compromisso com a verdade. No mínimo, um esforço dos realizadores nesse sentido.
Se fosse dirigido por Padilha, o filme “O Destino de Uma Nação” poderia mostrar Himmler, por exemplo, proferindo o discurso de Churchill de união nacional (“Nós vamos lutar nas praias, nos pontos de desembarque, nos campos e nas ruas” etc).
O roterista Anthony McCarten falou de sua pesquisa.
“Não desfigurei ninguém, nem distorci nada. Mas há buracos que precisam ser preenchidos. Esses precisam ser responsavelmente preenchidos”, frisou.
Padilha e sua equipe preencheram o script com mentiras, de maneira irresponsável e enviesada, num momento especialmente delicado da vida nacional.
Deu mais munição a uma legião de imbecis funcionais.
Em julho do ano passado — ou seja, enquanto trabalhava no seriado —, JP dedicou sua coluna no Globo para falar sobre fake news.
Professoral, alerta o leitor que a disseminação de notícias falsas “não é obra exclusiva de gente marginalizada ou de organizações clandestinas”.
“A verdade é que muitas vezes as fake news são reproduzidas e utilizadas por organizações e pessoas proeminentes de forma tão rápida que muitas vezes parece estar combinado com o veículo que criou a mentira… Em um ambiente assim, em quem podemos acreditar?”, prossegue.
“A proliferação insana de informações desconexas retira do cidadão comum a capacidade de saber o que é o caso. Parafraseando Marshall Berman, a proliferação das notícias falsas faz com que a realidade se desmanche no ar.
Isto, evidentemente, é um problema. Afinal, a existência de algum tipo de consenso sobre a realidade é fundamental para a vida em sociedade. Por exemplo: a Justiça só pode ser feita depois de estabelecidos os fatos”.
Qual é o verdadeiro Padilha?
Este ou o que advoga a licença para ludibriar o público em nome de uma picaretagem que ele chama de “obra-comentário”?
Provavelmente, ambos são dissimulados.
Como apontou Dilma, é bem pior que desonestidade intelectual.
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