Padilha se deu mal ao apostar na direita e agora tenta limpar imagem. Por Luís Felipe Miguel

Atualizado em 7 de março de 2020 às 14:44
José Padilha. Foto: Wikimedia Commons

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POR LUIS FELIPE MIGUEL

O súbito interesse da Rede Globo em Marielle Franco mostra uma disposição para enfrentar Bolsonaro, reagindo à óbvia preferência que o governo demonstra por suas concorrentes. Falta saber, é claro, até onde vai essa disposição – se a Vênus Platinada ainda julga que se latir bastante vai conseguir uma recomposição ou se já abandonou essa esperança.

Imagino que o caminho preferencial seja asseptizar Marielle, transformá-la em algo como paladina do identitarismo liberal e da integração das periferias à sociedade de classes. Como costuma ocorrer – como foi feito com Martin Luther King, cuja visão anticapitalista hoje é quase esquecida, ou Nelson Mandela despido de sua militância revolucionária e transformado numa espécie de Madre Teresa ou Gandhi sul-africano.

Se é isso, porém, precisavam forçar a mão e chamar o Padilha? Entende-se que seja um bom negócio para ele. A aposta que ele fez na direita provou-se infrutífera, porque a direita que chegou ao poder é tão tosca que não tem nenhum espaço para a cultura, nem para a mais acanalhada. Ele está interessado em limpar a imagem. Mas era claro que o nome de um cineasta tão desonesto intelectualmente causaria imediato desconforto, provocaria reações e colocaria em xeque a credibilidade do projeto.

A presença de Antônia Pellegrino no projeto, em parceria estreita com Padilha, é uma vergonha. É claro que o PSOL e mesmo Freixo não têm responsabilidade por aquilo que ela faz, mas valeria um posicionamento público para marcar distância.