Padre desmente milícia digital bolsonarista sobre vídeo dele convocando para ato de 15 de março

Atualizado em 2 de março de 2020 às 19:00
Padre Luis Fernando teve seu nome envolvido numa ação de submundo da milícia digital bolsonarista (Imagem: reprodução)

Em carta enviada ao DCM (veja abaixo), o pároco da paróquia da Catedral de São Dimas, em São José dos Campos, SP, Luis Fernando Soares, desmentiu a milícia digital bolsonarista e negou apoio a uma convocação de fieis para as manifestações de 15 de março contra o Congresso e o STF.

O vídeo foi transmitido aos grupos de apoiadores do presidente nas primeiras horas da manhã deste domingo (1).

O religioso aparece convocando para uma manifestação popular e acusando magistrados e parlamentares de fazerem o povo de “palhaço” e de estarem “criando problemas para o país”.

A deputada Carla Zambelli ilustrou o documento e fez viralizar no Twitter e no YouTube com os dizeres “Padre é aplaudido de pé ao se posicionar sobre as manifestações de 15 de março”.

Na cópia distribuída aos bolsonaristas, padre Luis aparece dizendo que “se alguém quer se manifestar, faça isso com as bênçãos de Deus. É isso que ele espera de nós”.

Pego de surpresa com a repercussão, o padre se manifestou por escrito.

Segundo ele, trata-se de um vídeo de 2019, quando “fui procurado por paroquianos que queriam saber se era ou não pecado participar de manifestações populares”.

“Não apoio nenhum partido ou político (pessoa)”, escreveu o religioso. “Não estou fazendo campanha contra nenhuma instituição democrática ou organização”.

Padre Luis Fernando ainda acrescenta que no vídeo editado e distribuído por milicianos digitais falou em seu próprio nome, “com objetivo de orientação pastoral dirigida somente em minha comunidade religiosa paroquial”.

Reitera que não falou e “não fala em nome da Igreja Católica Apostólica Romana, nem da Igreja do Brasil (CNBB) e nem em nome da Diocese de São José dos Campos”.

Minutos antes da cópia editada com a mensagem do religioso ser viralizada nas redes, o presidente Jair Bolsonaro postou um vídeo em que um padre católico repete bordão de sua campanha em missa. Sem explicação, tirou o post do ar logo em seguida.

Na semana passada, Jair recuou e mentiu ao negar ter repassado a seu grupo de contatos no WhatsApp um vídeo com as mesmas diretrizes deste repassado ontem, domingo (1).

Recuou porque foi alertado para a ameaça de impeachment por atentar contra as duas instituições (STF e Congresso Nacional) que, junto com a presidência, formam o pilar República.

Agora, na sequência do vexame, postando e deletando das redes a mensagem de um religioso católico em seu favor, ao mesmo tempo que apoiadores recebem um vídeo editado, com a palavra de outro religioso também católico, supostamente endossando o mote das críticas ao Congresso e ao STF e convocando os fiéis para irem às ruas no dia 15, Bolsonaro vai dando pistas de quais são os métodos de que se utiliza para alcançar seus objetivos de poder.

A carta encaminhada ao DCM

O post de Jair que foi deletado minutos antes do vídeo editado com a falação de padre Luiz ser viralizado nas redes