“País aterrorizado”: especialista explica por que segurança domina a eleição chilena

Atualizado em 17 de novembro de 2025 às 8:02
Daniel Johnson vestido de terno e gravata, falando a um microfone e gesticulando com a mão direita
Daniel Johnson, diretor executivo da Fundación Paz Ciudadana. Foto: Reprodução

O especialista em políticas públicas Daniel Johnson, diretor executivo da Fundación Paz Ciudadana, disse, em entrevista à BBC News Mundo, que “o Chile é um país que está extremamente aterrorizado”. A percepção dominante reforça o paradoxo que marcou a eleição presidencial realizada neste domingo (16): mesmo não sendo um dos países mais violentos da região, o Chile vive uma sensação coletiva de insegurança que passou a moldar a disputa eleitoral e a orientar as promessas dos candidatos. Confira alguns trechos:

Por que a segurança pública é uma questão central na campanha eleitoral chilena?

O Chile é um país extremamente aterrorizado. Temos alguns dos maiores índices de medo de se ser vítima de crimes no mundo.

É o país com a maior preocupação com o crime e a violência no mundo. E está longe de ser o país com o maior problema de crime e violência, seja em comparação com outros países da América Latina ou com o resto do mundo.

Embora o Chile historicamente tenha apresentado níveis relativamente altos de medo em comparação com sua taxa real de criminalidade, essa situação piorou nos últimos anos.

As campanhas políticas reconheceram isso e estão explorando amplamente essa questão em todas as candidaturas.

Como esse paradoxo pode ser explicado?

Existem várias hipóteses.

No índice de medo que compilamos anualmente na fundação, constatamos que as mulheres estão com muito mais medo do que os homens, e que as pessoas de níveis socioeconômicos mais baixos também estão mais medrosas.

Quando sentem a presença do Estado em suas comunidades, geralmente sentem menos medo.

Mas esses dados não refletem mudanças significativas em comparação com as tendências históricas. Portanto, embora isso explique parte do problema, não explica por que temos taxas de medo mais altas nos últimos anos.

É aí que outras hipóteses entram em jogo. Por exemplo, o alto nível de imigração que tivemos no Chile nos últimos anos.

Isso é algo que aconteceu em toda a América Latina. E alguns estrangeiros foram associados a certos tipos de crimes que geram muito medo no país.

Eleitores participam de ato de campanha pelas eleições presidenciais do Chile, em Santiago. Foto: Marvin Recinos

Embora o Chile apresente baixos índices de violência em comparação com outros países da região, sua taxa de homicídios praticamente dobrou em uma década. E o índice compilado por sua fundação mostrou, em outubro, que um terço (35%) dos domicílios relataram ter sido vítimas de roubo ou tentativa de roubo nos últimos seis meses. Isso alimenta o medo dos chilenos?

De fato, mas o número de famílias afetadas por roubos ou tentativas de roubo não difere do que temos vivenciado historicamente.

Observamos aumentos significativos nos crimes violentos. Por exemplo, estávamos acostumados com três homicídios por 100 mil habitantes por ano, e chegamos a taxas de mais de seis por 100 mil habitantes, embora esse número tenha diminuído ligeiramente nos últimos dois anos.

Em relação aos roubos com violência e intimidação, que não são todos os roubos, também observamos um aumento de 25% nos últimos oito anos.

Outros crimes, muito menos frequentes, também apresentaram um aumento significativo, como extorsão e sequestro.

E períodos de mudança nos padrões de criminalidade geralmente estão ligados a um nível mais alto de medo. No Chile, não sabemos ao certo como nos proteger desses crimes e nos sentimos muito amedrontados. (…)