Países têm interesses, não amizades. Por Kennedy Alencar

Atualizado em 4 de dezembro de 2019 às 19:36

Publicado originalmente no Blog do Kennedy:

O presidente Jair Bolsonaro disse ver “exagero” na repercussão da ameaça do colega Donald Trump de restabelecer tarifas para importação de aço e alumínio do Brasil. Ora, o “exagero” é a política de alinhamento automático com Washington, que só trouxe prejuízo ao Brasil ao longo do ano.

Bolsonaro e o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, tratam a ameaça do presidente americano com fraqueza, amadorismo e subserviência. Se o governo pretende mesmo reverter a medida, já deveria ter anunciado o estudo de alguma retaliação aos Estados Unidos. Esse jogo é uma via de mão dupla.

Em 2019, o Brasil aumentou a compra de etanol dos EUA e não conseguiu ampliar o mercado para a nossa carne e açúcar. O governo Bolsonaro abriu mão do “tratamento especial” a que o Brasil tinha direito na OMC (Organização Mundial do Comércio) em troca da ilusão de ingressar na OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento), um clube dos países mais desenvolvidos.

A forma como Trump anunciou a ameaça, via Twitter, e o tom duro da mensagem evidenciaram falta de apreço por Bolsonaro. Mesmo assim, o presidente brasileiro diz que entende o amigo que fala grosso e que não pretende virar as costas para ele.

Ora, países tem interesses, não amizades. O complexo de vira-lata de Bolsonaro, manifestado numa viagem a Washington em março, colocou o Brasil numa posição ruim na relação com os Estados Unidos. Tal subserviência resultou em descrédito para a imagem de profissionalismo da diplomacia brasileira. Antes respeitada, agora é motivo de chacota no âmbito da ONU (Organização das Nações Unidas) devido à guinada regressiva na área de direitos humanos.

A política externa de Bolsonaro comprou brigas desnecessárias com outros países. Tratou a Argentina com um amadorismo que não leva em consideração a interdependência entre as duas economias. E demorou a entender a importância de ter canais azeitados com a China, a nossa maior parceira comercial.

Em resumo, a desfeita de Trump coroa o isolamento internacional do Brasil. A política externa de Bolsonaro produziu danos ao país e afastou investimentos, provocando fuga de dólares.