Palocci mentiu para incriminar Lula no processo sobre caças. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 19 de março de 2019 às 13:28
Palocci no depoimento de ontem e o roteiro prévio

No depoimento prestado ontem à 10a. Vara Federal do Distrito Federal, Antonio Palocci mentiu. Ele foi questionado pela defesa do ex-presidente Lula se havia sido orientado pelo Ministério Público Federal a falar sobre caças, objeto da ação a que Lula responde.

O ex-ministro da Fazenda prestou depoimento como testemunha e, nessa condição, não poderia mentir. Mas mentiu, como mostram as provas juntadas pelos advogados.

Cristiano Zanin Martins, defensor de Lula, perguntou a ele se havia combinado com os procuradores que trataria de caças num depoimento prestado em junho do ano passado, como parte do acordo de colaboração.

“Não”, disse ele.

Mas as imagens mostram que havia um roteiro a ser seguido no seu depoimento “espontâneo”. Naquele depoimento, ele segurava em uma das mão algumas folhas e, em uma delas, é possível ler “caças”.

Se o depoimento era sobre fundo de pensão da Caixa Econômica Federal, por que o assunto “caças” foi tratado?

A defesa de Lula aponta uma conclusão possível, talvez a única: o Ministério Público Federal precisava de um depoimento sobre caças para juntar na ação que tramitava no Distrito Federal e que, em termos de provas, é vazia.

Com o depoimento de Palocci na mão, os procuradores requereram que o ex-ministro da Fazenda fosse ouvido no processo que apura a suposto pagamento de propina pela negociação da compra de caças franceses.

Apesar da fase de depoimento ter sido encerrada, o juiz concordou, e a defesa, analisando o vídeo, encontrou a imagem em que Palocci segura o roteiro com a palavra caças. Captou a imagem da tela e juntou nos processos.

“Tais capturas de tela mostram que o senhor Palocci, ao contrário do que afirmou na audiência de hoje, foi sim com o objetivo pré-estabelecido e preparado para falar de caças, dentre outros temas. Essa situação fica clara nas anotações que o senhor Palocci portava naquele momento com a referência a caças e a outros temas estranhos à Operação Greenfield”, escreveram os advogados, no ofício em que pedem ao juiz que avalie a ausência de credibilidade do depoimento de Palocci e eventual ilícito praticado por ele (falso testemunho).

O ex-ministro da Fazenda deixou a prisão depois que teve o acordo de delação premiada homologado pelo desembargador João Pedro Gebran Neto.

Os termos do acordo são mantidos em sigilo, embora já tenha vazado a informação (nunca desmentida) de que o ex-ministro teria ficado com 30 milhões dos 60 milhões de reais encontrados em suas contas e que haviam sido bloqueados.

Palocci não apresentou provas do que diz. Nem antes, nem no depoimento de ontem. Ele nem sequer conta com testemunha que teria presenciado suas conversas apresentadas como comprometedoras, entre as quais as de Lula.

Do ponto de vista jurídico, seria imprestável.

Mas, como ganhou destaque na mídia, pelo menos um objetivo foi atendido: o de criar o ambiente para condenar o ex-presidente.

É assim que a Lava Jato trabalha.