Pantanal pode acabar antes do que Marina disse, afirma ambientalista da USP

Atualizado em 9 de setembro de 2024 às 17:31
Pantanal. Foto: Reprodução

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, afirmou na última quarta-feira (4) que o Pantanal pode desaparecer até o final do século.

Durante sessão da Comissão de Meio Ambiente (CMA) do Senado, Marina destacou que o desmatamento e as queimadas têm reduzido a cobertura vegetal da região, o que afeta gravemente a bacia hidrográfica local. Segundo a ministra, é necessário aumentar os esforços e recursos para lidar com as consequências das mudanças climáticas.

No entanto, um professor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP) apontou que a situação é ainda mais grave, e que o Pantanal pode desaparecer muito antes.

“Os indicadores são cada vez mais evidentes de que uma crise muito séria já se estabeleceu no Pantanal. Nós estamos perdendo realmente o Pantanal a olhos vistos”, disse Pedro Luiz Côrtes.

“Baseado em um levantamento do MapBiomas, que mostra a redução da superfície de água no Pantanal, desde 1985 até o ano passado, eu digo que a ministra foi comedida nas suas observações. Porque, pelo avanço da degradação, da redução da quantidade de água no Pantanal, eu digo que na metade deste século ou por volta de 2060, já não tenhamos mais o Pantanal como um bioma”, afirmou.

O Pantanal é conhecido como a maior planície alagada do mundo. Mesmo nos períodos de seca, o bioma ainda mantém seus espelhos d’água, embora estejam diminuindo rapidamente. “A redução da quantidade de água é muito significativa nos últimos 40 anos e se acentuou neste século”, alertou o professor.

Bombeiros e brigadistas na região da Serra do Amolar, no Pantanal de MS. Foto: Governo de MS/Divulgação

Côrtes explicou que essa diminuição está ligada ao desmatamento da Amazônia e do Cerrado, que afeta o ciclo das chuvas e o abastecimento de rios importantes para o Pantanal. A redução das florestas amazônicas interfere no fenômeno dos “rios voadores”, que transportam umidade do Norte para outras regiões do Brasil. Com menos área florestada, porém, diminui também o potencial desse ciclo hídrico.

Já o Cerrado é ainda mais preocupante. “No Cerrado tem vários rios importantes que irrigam bacias do Nordeste, do Norte, do Sudeste e essas nascentes estão ficando comprometidas, ou seja, o rio no seu nascedouro já nasce com pouca água, com uma redução do volume de água, e isso vai impactar as bacias que são abastecidas por esses rios. Então, nós temos esse desmatamento do Cerrado repercutindo em outras bacias, repercutindo no Pantanal, e isso é evidente pelo levantamento do MapBiomas. Nós precisamos não só zerar o desmatamento, mas começar a recuperação de áreas degradadas”, disse o professor.

Para reverter essa tendência, será necessária uma ação humana clara e efetiva. “Eu não acredito que o Pantanal atualmente tenha condições de se recuperar por conta própria. Nós precisamos não só zerar o desmatamento, mas precisamos começar a recuperar as áreas degradadas na Amazônia”, destacou Côrtes, acrescentando que o mesmo vale para o Cerrado.

Uma das medidas propostas é a regulamentação do mercado de crédito de carbono, que permitiria a compensação das emissões de carbono por meio da recuperação de áreas degradadas. Entretanto, o avanço dessa iniciativa no Congresso tem sido lento.

“O mercado certificado está na boca de caixa do Congresso para a aprovação da lei que regula o mercado de crédito de carbono. Isso está para ser votado desde o ano passado, era para ser entregue isso para a COP 30. Nós vamos entrar numa nova COP e esse mercado não foi regulado. Isso permitiria que investimentos fossem realizados de maneira certificada, de maneira auditada, para permitir a recuperação de áreas degradadas, e isso consequentemente retiraria carbono da atmosfera. Mas nunca entra na pauta para aprovação [pelo Congresso]”, declarou.

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