
O Master Chef é um programa no qual candidatos fazem coisas batizadas de “uma tartelete desconstruída” e depois levam um punhado de críticas ácidas para casa.
Os jurados são rudes, fazem o estilo patrão desrespeitoso e isso, acredito, deve ser a fórmula de sucesso na TV.
Essa postura certamente agrada a empresários adeptos de assédio moral e funcionários que não veem a hora de poder comportarem-se exatamente da mesma maneira. O sonho do oprimido é tornar-se opressor.
Uma das juradas é Paola Carosella, que há tempos vem desagradando seus seguidores. Não pela atuação no programa, mas por sua posição política.
Fora das câmeras, Paola contraria os adoradores de panelas que as utilizam apenas para fazer barulho pelas janelas de seus apartamentos.
Os tais cidadãos de bem.
Pois bem, são estes que estão descendo o “debate” (se é que essa turma sabe o que seja debater) a um nível cada vez mais asqueroso.
“Cidadãos do bem, armados até os dentes, cidadãos do bem que matam em nome de Deus, que estupram em nome de Deus, que discriminam em nome de Deus, que desmatam em nome da pátria, que assassinam lideranças indígenas, mulheres, negros, pobres, em nome da paz”, escreveu anteontem a chef de cozinha em rede social.
As reações são um retrato perfeito do eleitorado bolsonarista.
“Vai fazer boquete na esquina para pagar esse cabelo horroroso.”
“Não está satisfeita?! Volte para a Argentina. Ninguém é obrigado a morar onde não gosta.”
“Chama a Manuela d’Ávila e o Jean Wyllys.”
Paola Carosella, diferentemente da atração na qual trabalha – cuja rispidez é algo combinado – não baixa o nível, não se deixa levar pelas grosserias.
“Você tem a capacidade de análise política e social? Consegue discordar sem o discurso ineficaz e bronco do PT e a Venezuela? É fundamental para o país ter a capacidade de crítica e de observação e de revolta, mesmo se você votou no atual presidente!”, escreveu ela a um desses abestalhados que ecoam discursos prontos.
Para muitos cretinos, ela se limita a responder: “A ética, a educação, o respeito”.
Ela me repreenderia por chamá-los de cretinos.
Uma tal Celle Caramba tentou ser amigável, como se isso disfarçasse a ignorância:
“Pow Paola, vc na cozinha é bem melhor… não mexe em time que está ganhando amor”, escreveu.
“Amor, o que tem a ver uma coisa com a outra? Eu posso cozinhar e pensar ao mesmo tempo, opinião tenho o tempo todo, e até agora tem funcionado bastante bem”, respondeu Paola à minion que considera vitorioso um governo que deixou milhares de pessoas sem médicos, que está destruindo a educação, desmatando a Amazônia e que fez o país retroceder em 44 indicadores de bem estar social.
Aconselho que se visite o Twitter de Paola, é duplamente didático. Possibilita que se veja as vísceras de bolsonaristas como um frango aberto sobre a pia, e também aprendemos como rebater impropérios com classe e dosagem perfeita de ironia.
“Escolha com cuidado as palavras! Procure bons argumentos e estabeleça conversas interessantes! Isso pode te ajudar a ter mais de 1 seguidor”, deu ela na cabeça de um hater fracassado.
De família italiana, Paola nasceu na Argentina em 1972, “onde as mulheres ainda plantavam, colhiam e cozinhavam intensamente”.
E onde, pelo visto, também pensavam e transmitiram sensatez.