Como o assassino da violonista Mayara Amaral usou entrevista na Veja para tentar amenizar pena

Atualizado em 6 de agosto de 2017 às 12:36

 

Dez dias após o crime, Luís Alberto Bastos Barbosa, de 29 anos, apontado como mentor da morte da violonista Mayara Amaral, 27 anos, muda sua versão sobre como teria cometido o assassinato. Em entrevista a revista Veja, publicada neste sábado (5), o assassino confesso diz que agiu sozinho, “movido pelo ódio” e livra da culpa Ronaldo da Silva Olmedo, de 30 anos, conhecido como Cachorrão, e Anderson Sanches Pereira.

Preso desde o último dia 26, o baterista e técnico de informática concedeu entrevista à revista na última quinta-feira (3), dentro do presídio de Trânsito da Capital. O Campo Grande News solicitou a mesma entrevista, porém, o advogado de Barbosa, Conrado Passos, disse que o cliente só havia aceitado falar com a Veja, por ser da imprensa nacional.

Com esta nova versão do assassino confesso, a defesa espera mudar a tipificação do crime, conforme afirmou o advogado de  Barbosa nesta sexta-feira (4), voltando-se ao homicídio simples, cuja pena é de 6 a 20 anos.

Desde que o caso veio a tona, há um clamor social para que o caso seja tipificado como feminicídio, que é uma qualificadora de homicídio. No entanto, esta tipificação não foi considerada pela polícia. Até então, o crime é tratado pela polícia como latrocínio – roubo seguido de morte.

Morte – Na nova versão do assassino confesso, o crime ocorreu por causa de um rompante de raiva que o acometeu depois de uma discussão com Mayara. Luís Alberto diz que já estava embriagado quando chegou ao motel com a jovem, pois havia bebido o equivalente a uma garrafa de vodca num bar, onde estava antes de conversar com a jovem.

Barbosa diz ainda que no decorrer da noite, cheirou cocaína e continuou a beber, desta vez cachaça. Nesta versão, o assassino diz que a discussão começou porque se irritou com a forma como Mayara teria se referido à jovem com ele namora há sete anos.

Ensandecido, ele disse ter pego o martelo que carregava na mochila e acertado três vezes a cabeça de Mayara. Luís Alberto disse que carregava a ferramenta para se defender, pois costumava “andar em muitas quebradas para comprar drogas”. “Não foi planejado, a mochila estava aberta na cabeceira da cama e o cabo estava de fora. Foi um momento de fúria”, disse o assassino.

Ao constatar que Mayara estava morta, ele diz que limpou o sangue do quarto e deixou o motel na manhã do dia seguinte.

Ocultação – Luís Alberto contou ainda que tentou enterrar o corpo da violonista em um terreno baldio próximo de sua casa, mas o solo pantanoso impedia que o cadáver ficasse totalmente submerso.

Foi então que decidiu passar em um posto de gasolina, comprou 5 litros de álcool e foi para uma área de pasto em uma região conhecida como Inferninho. Umedeceu o corpo de Mayara com o combustível, espalhou o líquido em volta para simular um incêndio e acendeu o fósforo.

“Fui movido pelo ódio, porque tínhamos discutido e ela debochou da minha namorada. Chamei-a de vagabunda e ela me bateu. Tive um ataque de fúria, tinha bebido e cheirado. Depois que tudo aconteceu, chorei por mais de duas horas seguidas”, disse.

Culpa – O assassino garante que tentou culpar o amigo, Ronaldo da Silva Olmedo, de 30 anos, conhecido como Cachorrão, e Anderson Sanches Pereira, porque achou que sua pena seria menor.

“Como ele já tinha passagem pela polícia, menti que ele fez tudo. Mas, se olharem as digitais no cabo do martelo, vão ver que são minhas. Resolvi contar toda a verdade e enfrentar o que vem pela frente. Cometi um erro grave e quero pagar por ele”, afirma.

Ao fim da entrevista, o assassino confesso diz que está arrependido e pede desculpas: “Queria pedir desculpas à família da Mayara e à minha. Por mais que ninguém vá acreditar, eu gostava dela. Minha vida está destruída. Eu ia me casar, estava procurando casa, dei entrada para sacar o FGTS. Agora, não sei o que será de mim. Quando fecho os olhos, vem a imagem da Mayara e o momento do crime. Não tenho religião, mas, à noite, na cela, eu grito por Deus”, encerra.

Conforme a revista, a delegada responsável pelo caso, Gabriela Stainle, já tinha indícios que Luís Alberto estava sozinho na cena do crime. “O martelo pertence ao Luís, e o Cachorrão sequer aparece nas imagens das câmeras do motel”, diz a delegada.

O inquérito sobre o caso foi encerrado nesta sexta-feira (4), até onde se sabe com a tipificação de latrocínio – roubo seguido de morte e ocultação de cadáver. O Campo Grande News tentou contato com a delegada por telefone, mas a chamada indica que o aparelho está desligado.

Texto publicado originalmente no site Campo Grande News.