Para conter Trump, Lula se aproxima de líderes de direita na América do Sul

Atualizado em 19 de agosto de 2025 às 11:48
Lula e Donald Trump. Foto: Reprodução

Com receio de um isolamento diplomático articulado por Donald Trump na América do Sul, o presidente Lula (PT) tem intensificado gestos de aproximação com líderes de direita no continente, conforme informações do Estadão.

A avaliação no Palácio do Planalto é que o presidente norte-americano opera para interferir na política brasileira, recriando, com novos alvos, o papel que o Grupo de Lima desempenhou no passado contra a Venezuela.

Diplomatas e auxiliares de Lula defendem que consolidar projetos estratégicos com países vizinhos — independentemente do viés ideológico de seus governantes — é fundamental para evitar comportamentos hostis ao Brasil e conter tentativas de “mudança de regime” a partir de pressões internacionais.

“Diferenças políticas não devem se sobrepor ao objetivo maior de construir uma região forte e próspera”, afirmou Lula durante visita do equatoriano Daniel Noboa ao Palácio do Planalto. Noboa retribuiu dizendo que “as discussões ideológicas ficaram no passado”.

O movimento inclui também o reconhecimento, por parte do governo brasileiro, do resultado das eleições na Bolívia, onde dois candidatos de direita disputarão o segundo turno — algo inédito após vinte anos de hegemonia da esquerda.

O Planalto decidiu não aderir à tese de “eleição ilegítima” defendida por Evo Morales e trabalha para estabelecer diálogo com quem vencer, sinalizando que a prioridade do Brasil é evitar instabilidade nas fronteiras e preservar acordos como o gasoduto Bolívia–Brasil e a cooperação migratória com a Venezuela.

Além do Equador, Lula receberá neste mês José Raúl Mulino, presidente do Panamá, interessado em intensificar laços comerciais, comprar aeronaves da Embraer e atrair investimentos brasileiros para o Canal do Panamá. Há também conversas paralelas com Paraguai, Argentina, Peru e Chile — este último com chances de eleger o direitista José Antonio Kast à presidência.

Nos bastidores, o Planalto teme iniciativas semelhantes à decisão de Trump de enviar militares norte-americanos para combater o narcotráfico na região — o que, nos EUA, já é classificado como “terrorismo” — e rejeita qualquer sinal de que o Brasil possa aderir ao discurso de uso da força.

A resposta de Lula será o fortalecimento da agenda de soberania e defesa da democracia, com a tentativa de reunir mais de 30 líderes mundiais em Nova York, no mês que vem, durante a Assembleia-Geral da ONU.

Para o governo brasileiro, a disputa com a extrema direita regional se prolongará até as eleições de 2026. E, para evitar um cerco na vizinhança, Lula aposta em uma diplomacia pragmática, oferecendo cooperação antinarcóticos, ampliação de fluxos comerciais e grandes projetos de infraestrutura, em uma estratégia de diversificação e reposicionamento do Brasil no tabuleiro geopolítico sul-americano.